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E ADVERTENCIAS

AO LEYTOR.

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A primeira parte desta Chronica contey os principios & progreffos da Religiám da Companhia de IESU, em Portugal, por espaço dos primeros doze annos, no tempo em que a governou o Padre Mestre Simam Rodrigues, de muy fanmemoria,referindo a fua vida,com a de alguns Religiofos muyta virtude,que naquelles annos entraram na Companhia:agora nešta segunda parte continuarey, contando as mais coufas que fo cedéram, até a morte de noßo Sanéto Patriarcha Ignacio, & as vidas de alguns varoens illuftres, que entam entráram na Companhia, que foy o que prometi no principio deftas duas partes,

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Advertindo porèm fempre,que eu,pofto que vou dando conta de tudo o que focedeo nos primeros annos da Companhia,nam pretendo fazer annaes, fenam que tomo occafiam dos annos em que entro, pera contar nam so as fundaçõës, & progresos das casas, ou Collegios da Companhia, que entam focederam, mas tambem pera escrever a vida,& a morte de todos os varoens infignes em virtude, que neftes annos,no tempo de S.Ignacio entráram nesta Provincia: &afsim ainda que tomo o principio de tam longe,com tudo chego com as cousas, & noticias de muytas dellas,quafi a noßos tempos. Donde fe ve a confiança com que profeßo falar verdade pois nam conto hiftorias do tempo de Saturno,mas efcrevo confas que tem muytas testimunhas vivas,as quaes me pode arguir. Efte privilegio te a antiguidade, qnam examinamos,mas veneramos fuas coufas,ainda quado fam mais difficultofas de crer,porém as cousas modernas todos tem licença, ou a tomam pera as examinar,& pera nellas inquirir, & assim bem se ve a obrigaçam,que me corre de hir atento nas materias em quefalo.

A liçam defta fegunda parte póde recrear aos curiofos, porque contem muytas confas dignas defe faberem,que tirey alimpo,afsim tocantes dos fenhores Reys Dom Ioám Terceyro, Dom Sebaftiam,& Dom Henrique, como pertencentes à Companhia. Porém de mim confeßo, que a mim me caufam grandifsima confusèm as vidas fanétas,&os exemplos fingulares,que conto daquelles noffos primeyros varoens,cujas historias aqui escrevo. A vifta da imagem de Alexandre Magno chorou, como envergonhado Iuho Cefar, vendo o porco que tinha obrado, čeparado cī as illuftres façanhas, admiraveis proezas daquelie grande 11

Rey.

Rey. Com mais rezám posso chorar, vendome tam imperseyto á vila de varoens perfeytifsimos: as folemnidades dos Martyres,dız S.Agostinho, Jam vivas exhortaçoens pera o martyrio, pera que nos animemos a imitar,os que gostamos feStejar. Assim nos deve foceder aos da Companhia,aos quaes, os exemplos daquelles noflos Religiofos, cujas vidas brevemente aqui refiro, nos devem fervir de fetas abrazadas,pera nos afervorarem afeguir o exemplo dos que nos vam diante, nam menos nos annos,que nos levam, que nas virtudes que tiveram.

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Aug.Serm. &tis.Solemnitates Mar

47.de San

rum exfunt marty

riornm, &c.

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No particular da fórma,& methodo da composiçam, procurey em tudo ajuftarme com o modo de escrever, que goardey na primera parte,pera que pors o autor he o mesmo,o eftylo nam feja diverfo. E ainda que fey que algus Crucos nam aprovam as alluzoens à fagrada escritura, & alguas poucas erudiçoens, ou Sentenças, que tal vez toco,com tudo álem da reposta fer aqui a mesma que dey na primeyra parte, agora acrecento,que eu nam figo a opiniàm daquelles que cuy-1.p.in Prodam, que grangeam authoridade a feus efcritos, com fe mostrarem menos cuyda verent. dofos no eftylo,perfuadindofe que os teram por verdadeyros mas cousas,por fe mostrarem incultos na fraze:fendo assim que o fazem, ou porque nam podem mais, ou porque fe querem furtar ao trabalho,pois he certo que o concerto das palavras nam tira a verdade na hiftoria.

log.in 5.ad

E pera que neste particular diga o que entendo, depois de larga liçam,que tive de muytos hiftoriadores, Gregos,Latinos Italianos, Hefpanhocs, & Portugueses, no fim me vim a refolver, que aquelles melhor compuzéram, que com a felicidade da boa materia,tiveram a dita do bom eftylo,efcrevendo de mancyra, que Horat. in juntamete deleytaffem,&& enfinaßem,como o outro Sabio dizia,e

Lectorem delectando,paritérque monendo.

Pois he certo, como diz Sancto Ambrofio que a peor terra he a mais esteril, &o melhor campo he o que na Primavera fe mostra mais enfeytado, com os mais luzidos efmaltes das mais lindas flores. E os cèos, a quem o 8 Propheta chamou Livros, que contam as obras mais gloriofas do Creador, nam deyxam de fer bons hiftoriadores, quando fe moftram aos olhos mais eftrellados, & quando fe oftentam à vista mais resplandecentes. Particularmente, que fsim como com os annos fe mudam os trajos, assim tambem como o Meft,e da Poezia1 enfina)paßa a idade das palavras antigas, & vem outra de costumes novos; nam havemos de querer, que fendo os tempos diverfos, fejam os eftylos os mesmos.

Ifto he o que na materia dos eftylos julgo;com tudo fe houver alguem, que lendo esta minha obra, àlem de fer Aristarcho,tambem fe faça Antiquario (como Augusto Cefar chamava a femelhantes (riticos i)ao qual namcotente cfta minha opiniàm,desenganese,que nem elle me fará feguir a' fua,nem faltarà algum, que aprove a minha, que atè cm hum prado cheyo de rozas,nam falta quem va demandar os espinhos,que era o com que o outro fe confolava.K

Non.

Arte Poe

tica.

f

Ifaac cap.7.

Ambrof.ce Terra que lis,atque fe cunda, quæ ieiuna, &

bona, ferti

autem ma-!

la

fterilis,&c.

g

P.18. n. 2.

Cæli enarrant gloria

Dei.

h: Hor.in Arte Poet. Ita verborum

vetus inte-.

rit ætas,&c

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Suet.inAu

guto,c. 85. K Petron. Arbit. in Sat.

Quòd placet,hic fpinas colligit,ille rofas.

O que poffo affegurar he,que nam perdoey a trabalho algum,por acertar com a verdade, que he o alvó,a que principalmente atiro: & porque falo em muyt as peffoas illuftres defte Reyno, & alcancey bastantes noticias nefte particular de geraçoens procuro fempre nomearlhes feus pays,com os cargos que tiveram,nam como quem busca occafioens pera vituperar,mas como quem descobre traças pėra honrar,nam como quem quer defenterrar mortos, fenam como quem pretende autorizar os vivos porque fempre neftes livros pretendi falar bem de todos, com toda a verdade affirmar, o que de fy dizia Cornelio Tacito, no principollo pio de feus Annaes, que nam me move algúa payxam,ou em rezàm de odio, pera com huns,ou por caufa de adulaçam pera com outros.

1

miyta

Por ultima advertencia digo,que por quanto falo aqui em homens de virtude, que nam estam canonizados, & falo em alguas cousas que pareceram milagrofas; porque me confta do decreto do Sanctifsimo Papa Urbano VIII. paffado em 5. de Julho,no anno de 1634.Protefto,& declaro,que nunca minha tençám foy deyxar de goardar o tal decreto,antes o venero, & eftimo em fummo gráo: & fe algua vez me escapáram alguas palavras,em que faleyem fanétidade, em milagres, prophecias dos que nam eftam canonizados, nam pretendo mais que dar a ifto autoridade humana, & fallivel,& nam divina,& ecclefiaftica.

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Companhia de IESU,na Provincia de Portugal.,

A

Ntonio de Soufa da Companhia de IESV, Provincial em Portugal,por particular commiffam, que pera iffo tenho do muyto Reverendo Padre Mucio Vitellefchi,noffo Prepofito geral,dou licença pera se imprimir a Chronica da Companhia de IESV defta Provincia de Portugal, compofta pelo Padre Balthezar Tellez da mesma Companhia. depois de vista, examinada,& approvada por peffoas doutas, & graves da nofsa Companhia. Em teftimunho do qual dey efta por mim affinada, & fellada com o fello do meu officio. Lisboa a 10. de Agosto de 1642. Antonio de Saufa.

ÌUIZO, E APPROV AC,AM QUE DEO SOBRE
efta Chronica o Padre Mestre André Gomes da Companhia de IESU,
Lente que foy de Philofophia, & Theologia, & Prégador
muy celebrado neste Reyno.

P

Or mandado do Padre Provincial Antonio Mafcarenhas, li,com grande golto,o livro da Chronica da Companhia de IESV desta Provincia de Portugal,ordenada pelo Padre Balthezar Telles da mefma Companhia: pareceme fer obra de grande edificaçam, & confolaçam pera toda a Companhia, em que fe referem coufas mais admiraveis,que imitaveis, & de grande confufam pera alguns dos que vivemos, & vemos quam longe estamos daquelle primeyro, & fervorofo elpirito,em que nofla fan&ta Companhia fe fundou. O eftylo da obra he grave, & pouco affectado,como deve fer o da hiftoria. Tudo o que nella fe refere he muy conforme as tradiçoens, que ha nefta Provincia, a qual ao Autor eftà em obrigaçam,pela muyta diligencia, & certeza, com que as inquirio,& pelos graves termos,com que as refere. Pelo que me parece muy digna de fe eftampar,pera edificaçam, & proveyto elpiritual de todos,& principalmente dos filhos da Companhia. Lisboa 9.de Outubro de 1644.

André Gomes.

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efta Chronica o P.M.Paulo Gomes da Companhia de IESU,

L

Lente jubilado em Theologia.

I com applicaçam devida (& devefe toda) efta fegunda parte da Chronica da Companhia de IESV, no tocante à Provincia de Portugal, compofta pelo Padre Balthezar Telles da mefma Companhia,& Provincia;& entendo que a efte livro quadram bem as palavras,que de Chrifto,grande Deos, diffe o autor da obra de Vera circuncifione (que anda entre as de S. Hieronymo)aonde, querendo averiguar a caufa do filho de Deos, mandar aos feus, que nam diffeffem fer elle Chrifto;havendo tantas rezoens pera elles o publicarem,diz: Mavult fe inventum, quàm proditum. Affim que o mefmo livro dou por abonada teftimunha do muyto que deve fer eftimado, lido,& mais lido. E acharfehà tam longe de ter coufa contra noffa fancta fê,& bons coftumes, que nelle fe acharân grandes confirmaçoens da mefma fé,& illuftriffimas finezas dos costumes mais fubidos. Do Autor fómente digo, que no efpeculativo tem afâs moftrado, que comprehende as fciencias; nefta obra moftra,que exèrcita a pratica do realçado das virtudes, & mais das mais aventajadas; & affim entendo fer efta obra dig. niffima de toda a licença,pera fahir a luz, & a dar à hiftoria, Sam Roque 12. de Outubro de 1644.

Paulo Gomes.

AP PRO V AC,O ENS, E LICEN CAS,

do Sancto Officio.

Padre Doutor Fr. Antonio Bottado, Qualificador do San&to Officio,veja o livro,de que fe faz mençâm, & informe com feu parecer.Lisboa 27.de Septembro de 1644.

Pero da Sylva.

Francifco Cardofo de Torneo.
Pantaleão Rodrigues Pacheco.

PARECER, E. APPROVAÇAM DO MUTIO
Reverendo P.M.Fr. Antonio Bottado da fagrada Ordem de S. Agostinho,
Doutor, & Lente de Theologia, Qualificador do S.Officio,&c.

V

I esta Chronica da Companhia de IESV de Portugal,digna empresa do Padre Meftre Balthezar Telles, que com feu fingular engenho, em planta tam breve, nos mostra

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