segue-se em geral huma pontuação mais simples do que aquella que Aldo Manucio tinha fixado. Procurei nesta parte seguir hum meio termo, encostando-me algumas vezes ao que indica o nosso Poeta sobre a maior ou menor pausa que elle desejava se fizesse aqui ou alli nos seus versos, e aonde isto não contradizia as regras mais geralmente adoptadas pelas nações cultas; porque emfim cada author he quem melhor conhece a duração das pausas que deseja. Procurei alem disso corrigir os nomes da Geographia antiga, e da Mythologia, que os precedentes editores tinham mal impressos, confundindo Massilia, Marselha, com Massylia, provincia de Africa; e Tethys, esposa de Neptuno, com Thetis, esposa de Peleo, e filha de Nereo, que se toma pelo Mar, e muitos outros, etc. Exclui os argumentos em outavas de João Franco Barreto, porque não posso approvar esta introducção de huma composição estranha, e imperfeita, por causa da concisão forçada della, em huma obra de tanto valor, e de hum author preeminente. Não julguei dever imprimir o Index do mesmo Barreto, porque não somente me parece mal feito, mas até errado em algumas das suas explicações. Demais, esta edição he somente feita para aquelles que não ignoram a Mythologia, a Historia, e a Geographia, e que escusam este socorro, que aliás podem achar melhor nos differentes Diccionarios respectivos a estes conhecimentos. suas Seria mais util para a boa intelligencia dos Lusiadas, e para melhor gostar a sua lição, dar em hum discurso preliminar, hum epitome da historia de Portugal, que apontasse as instituições, que indicasse as causas daquelle espirito cavalleiro, o qual animou a Nação nas guerras que sustentou no continente, e nas emprezas atrevidas que commetteo, passando mares nunca de antes navegados, e fundando hum vasto imperio em longinquas regiões. Neste quadro figurariam os nossos grandes Reis, e os heroes de que Camoes faz menção. Huma secção explicaria summariamente quaes foram as nossas possessões na Asia, o systema da sua adminis m tração e commercio, e as tristes causas da nossa rapida decadencia. Este trabalho, para ser bem feito, requer muito tempo, e mais repouso. Pouco satisfeito do modo leve e improprio, com que os editores precedentes deram noticia da vida de Luis de Camões, e movido de hum sentimento de justiça para com este homem superior, julguei necessario, e de obrigação dar huma nova vida delle, procurando mostrar na sua verdadeira luz, as eminentes qualidades daquelle nobre caracter, igual e correspondente em tudo ao seu grande engenho. Para que esta edição emfim fosse digna do nosso Poeta, e da Nação, empenhei M. Firmin Didot (que une á conhecida superioridade na sua arte, o amor das bellas-lettras, o conhecimento dos classicos, e a cultura da poesia) a encarregar-se da impressão; o que elle fez com o maior desvelo, gravando, e fundindo novos sua officina typographica para esta edição, e vigiando elle mesmo comigo a sua execução, e correcção, ao ponto que espero se não achará hum erro typographico. Eu não caracteres na conheço edição, mesmo das melhores, que delles seja isenta. Convidei M. Gerard, membro do Instituto, famoso pintor de que a França se honra, bem conhecido na Europa pelo engenho, e juizo que distinguem as suas composições, e paineis historicos, para dirigir os desenhadores e gravadores das estampas que ornam esta edição; ao que elle se prestou com o mais desinteressado zelo, digno do sentimento que hum grande homem excita em hum coração elevado; encarregando-se elle mesmo do retrato de Camões. O mais ardente patriotismo, e a minha admiração por Camoes me fizeram unicamente entrar nesta empreza. Retirado dos negocios publicos, e do serviço do meu Soberano, e chegado ao outono da vida, com huma saude arruinada, pensei que, na minha situação, não poderia fazer cousa mais agradavel á minha Patria, do que dar-lhe huma boa edição daquelle Poema, que he o maior monumento da gloria nacional. Espero pois que Ella receba benignamente esta derradeira prova do amor que sempre lhe pro |