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RICARDO, pegando-lhe na mão, a tremer

Eu adoro-te, Olympia... eu queria ser rei... para te fazer rainha. (Áparte.) Que banalidade tão velha !

OLYMPIA

Ora graças a Deus, que já achou alguma coisa para me dizer !

RICARDO, enthusiasmando-se

Oh! tinha tanto que te dizer !... (Beijandolhe a mão muitas vezes.) Porém, não digo mais nada. (Aparte.) Começo a achar o Ricardo, que eu tinha perdido; já era tempo!

OLYMPIA, áparte

Principia a fallar bem! (Alto, timidamente.) Pois dize muitas vezes: - adoro-te!

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RICARDO, dando-lhe um beijo na fronte

Adoro-te! adoro-te!... adó...

SCENA XIII

RICARDO, OLYMPIA, SOPHIA,
ALVARO, LUCAS

ALVARO, áparte, vendo Ricardo e Olympia perturbados
Parece-me que se explicaram sufficiente-

mente?!

SOPHIA, vae buscar Ricardo pela mão e vem a Alvaro Senhor doutor Alvaro Coutinho, tenho a honra de lhe pedir a mão de sua filha D. Olympia para meu filho Ricardo Viegas. ALVARO, entregando Olympia a Sophia

Concedo-a com satisfação, se é gosto d'ella; e sirva-lhe v. ex.a de mãe.

OLYMPIA, ingenuamente a Ricardo

Ora, senhor meu marido, dê-me cá o seu braço.

Toma-lhe o braço e passeia com ar de triumpho pela sala; as outras pessoas sorriem

LUCAS, a Olympia

Então? quem te ha de casar? Que te tenho eu dito sempre?

OLYMPIA, tomando a mão de Ricardo

Ah!... é verdade; caze-nos.

SCENA XIV

Todos se riem.

ALVARO, RICARDO, SOPHIA, OLYMPIA, LUCAS, LEOPOLDINA

LEOPOLDINA

Dá licença, meu tio?

Movimento geral de admiração.

ALVARO, contendo-se a custo

A senhora! Pois ousa ainda ? !...

LEOPOLDINA

Entregaram esta carta a meu marido, para o senhor Ricardo Viegas; e como eu vinha fazer uma visita aqui à sua escada, encarreguei-me de a trazer.

RICARDO, pegando na carta, zangado

as

Aqui não é a minha morada! (Olhando para o sobrescripto.) Ah! é do meu director; v. ex. permittem? (Abre, lê para si, e depois amarrota a carta na mão; a Leopoldina.) Obrigado, senhora, por se ter offerecido para correio de más novas. (Com desprezo.) Comprehendo a vingança de uma mulher desprezada.

LEOPOLDINA, sériamente

Ignoro o conteudo d'essa carta.

RICARDO

Eu lh'o digo, para que a sua satisfação seja completa. É a minha demissão do emprego com que eu sustentava minha mãe...

Ah!

SOPHIA

RICARDO

E com que devia sustentar minha mulher. (A Alvaro, tristemente.) Agora já não posso casar. (A Olympia.) Restituo-lhe a sua palavra.

SCENA XV

ALVARO, RICARDO,

LUCAS, SOPHIA, OLYMPIA, LEOPOLDINA, POLYCARPO, THOMAZ

THOMAZ, annunciando

O senhor Polycarpo de Almeida.

Polycarpo pára á entrada da porta e d'alli comprimenta sem entrar, por ver todos tristes

OLYMPIA

Ó Leopoldina, sempre és muito má! Eu nunca te fiz mal e tu vens impedir-me de casar!

ALVARO

E se fosse só isso!

LEOPOLDINA

Juro, que ignorava o conteudo da carta !

Encarreguei-me d'ella para ter um pretexto de vir aqui, é certo; mas vinha movida por um sentimento bom... - Meu marido é influente; eu farei com que elle obtenha um emprego para o senhor Ricardo.

RICARDO, indignado

Regeito a sua protecção!

ALVARO, dando a mão a Ricardo

Seja qual for a sua sorte, tem a minha palavra.

OLYMPIA, dando-lhe tambem a mão

E a minha.

POLYCARPO, approximando-se com um papel lacrado na mão

E a minha casa para ganhar dinheiro. (Todos se voltam para elle.) Ha muito tempo que eu desejo ter uma escripturação regular, como o senhor doutor bem sabe... e se o senhor Ricardo quer ser meu guardalivros, offereço-lhe seiscentos mil réis por anno. Para si, sua esposa e sua mãe não é muito, mas Deus accudirá com o que faltar.

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