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SOPHIA

Obrigada, senhor; muito obrigada.

RICARDO, apertando-lhe a mão

Acceito... E peço-lhe a fineza de ser padrinho do meu casamento.

POLYCARPO, commovido, olhando para Alvaro
Se eu tivesse ainda tempo?!

ALVARO

Que diz, homem?!

POLYCARPO, indicando a porta do gabinete

Escutei áquella porta... (Movimento de Alvaro e de Ricardo.) Tratava-se da minha vida!

RICARDO

Ha de ser meu padrinho e ha de viver muitos annos.

ALVARO, baixo a Ricardo

É preciso convencel-o d'isso, ou não nos vive um mez.

POLYCARPO, a Olympia

Em todo o caso receba já o meu presente

de noivado.

Dá-lhe o papel lacrado.

ALVARO, tirando o papel da mão de Olympia

Que é isto, senhor Polycarpo?

POLYCARPO

O meu testamento.

ALVARO, indo para rasgar o papel

Não pense em asneiras !...

POLYCARPO, suspendendo-o

Prometteu fazer-me o ultimo favor que eu lhe pedisse. (Solemne e com tristeza.) Cumpra religiosamente a minha ultima vontade.

Alvaro curva a cabeça.

LEOPOLDINA, áparte

Como é facil fazer-se bem !... e como eu tenho feito mal!... O exemplo d'esta gente, que se estima e respeita, entrou-me na alma ! Se eu conseguisse que tambem me estimassem e respeitassem?...

Encaminha-se lentamente para a porta.

ALVARO, erguendo a cabeça, com resolução

Polycarpo, o senhor não ha de morrer d'essa doença! Vou lutar com ella! (Rasga o

testamento e lança os pedaços ao chão.) E como para Deus nada é impossivel (Ajoelhando e erguendo as mãos e os olhos) faço voto solemne de que, se Elle me ajudar a fazer esta cura, tornarei a ser medico, ao menos para os que não podem pagar!

Todos ajoelham profundamente impressionados; Lucas ora fervorosamente; Leopoldina ajoelha ao pé da porta, e Olympia, vendo-a só, vae ajoelhar-se ao pé d'ella; a orchestra toca uma harmonia religiosa.

POLYCARPO, de joelhos e reanimando-se

Parece que já me sinto melhor!

A orchestra continúa; o pano cae.

ACTO QUINTO

Sala da livraria do primeiro acto

SCENA I

RICARDO, OLYMPIA, THOMAZ, RITA, andam a arrumar nas estantes os livros, que estão sobre a mesa; Ricardo é quem os põe nos seus logares, recebendo-os das mãos das outras pessoas.

RICARDO, a Rita, que lhe dá muitos livros a um tempo Devagar, devagar, que temos tempo.

OLYMPIA, sentando-se

Eu estou cançadissima!

RICARDO

Já te disse que parasses: isto está quasi

prompto.

THOMAZ, dando livros a Ricardo

Este trabalho não era para a menina... quiz por força ajudar-nos !...

RITA, idem

Um dia assim! Elle não é para cançar?! Estamos a arrumar livros desde as nove horas da manhã, e são quasi seis da tarde!... Olhando para os livros, que restam para arrumar.) Cuidei que não acabavamos hoje! Mas consola-se a gente pensando no contentamento que vai ter o senhor doutor, tornando a ver a sua livraria. Não, que até eu, que não entendo nada d'isto, estou com vontade de chorar!

RICARDO

Posto que eu não seja muito de lagrimas, tambem me tenho visto atrapalhado.

OLYMPIA

E eu? Tenho um nó na garganta!... Mas como o nosso Thomaz, é que não ha ninguem! Diz elle, que ainda gosta mais dos livros que meu pae.

THOMAZ

Não, não gosto! Chorava tres dias de cada vez que tinha de tirar uma obra das estan

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