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tes para a ir vender... O senhor doutor nem

deu pela venda!

OLYMPIA

Julga isso? elle não quiz entrar aqui mais, para não ver as paredes nuas.

THOMAZ

Pois eu entrava... vinha todos os dias esconder-me n'esta salla... (Apontando para as estantes) para chorar por isto!

RICARDO

Acabaram-se as tristezas; elles cá estão outra vez, e espero em Deus que não tornarão a sair!

THOMAZ, querendo dar um abraço n'uma estante
Coitadinhos!

OLYMPIA, rindo e indo levar livros a Ricardo

Veja se endoidece, Thomaz?

THOMAZ, quasi a chorar

Deixe endoidecer!... O que me falta agora ver é se o senhor doutor não fica tão contente como nós.

RITA

Hade ficar. Aquillo sempre é um homem mais capaz! (Áparte.) Tirando aquellas olhadellas, depois que me viu o pé... Que eu nunca soube o que elle queria dizer na sua !

SCENA II

RICARDO, OLYMPIA, THOMAZ, RITA, SOPHIA

SOPHIA

Boa tarde, meus filhos; boa tarde, senhor Thomaz e senhora Rita.

Beija Olympia e recebe um beijo de Ricardo.

OLYMPIA

Saiba, que escapou de boa estafa!

SOPHIA

Não pude vir mais cedo. (Tira o chapéo e o chale; olhando para as estantes.) Já vossês téem tudo acabado?! assim é que é trabalhar !

RICARDO, procurando n'uma estante logar para um livro Não ha tempo a perder.

SOPHIA, levando livros a Ricardo

Leopoldina não veio ?

OLYMPIA

Estamos á espera d'ella e dos nossos amigos, que Ricardo mandou avisar.

RICARDO

Nunca julguei aquella mulher capaz de tão completa regeneração! Está dando uma lição e um grande exemplo ao mundo! Verdade é que o mundo ri-se d'ella... porque já não é das suas.

SOPHIA

Quem zomba dos que se arrependem não sabe o que faz. Paulo e Leopoldina commetteram gravissimas faltas; arrependeram-se e perdoaram um ao outro, e o mundo, que foi quem os perdeu, não tem agora direito para os julgar. Ella quiz recolher-se a um convento e o marido não lh'o consentiu. Vivem uma vida austera; não se separam nunca em publico; respeitam-se mutuamente; e educam os filhos nos mais severos principios da virtude. São esposos para todos, menos para si.

RICARDO

caso de fazer pasmar!

SOPHIA

No quarto do pae dormem os dois filhos; a filhinha dorme com a mãe; deixem passar tres ou quatro annos, esquecer a historia da sua queda e elles serão respeitados pelos mesmos que agora os escarnecem irreflectidamente.

SCENA III

SOPHIA, OLYMPIA, RITA, RICARDO,
THOMAZ, LUCAS

LUCAS

Ora Deus seja n'esta casa!... Bravo! Temos milagre? (Aperta as mãos a todos, Olympia e Rita beijam-lhe as d'elle.) Como foi isto?

RICARDO

Paulo soube que meu sogro deve chegar hoje; e como tinha comprado a livraria, offerece-lha.

LUCAS

Bonita acção!... e boa idéia para resolver o nosso doutor a cumprir o seu voto... e a perdoar aos sobrinhos. Que eu não lhe lou

vei, ha seis mezes, a dureza com que repeliu D. Leopoldina, quando ella aqui veiu já meio arrependida.

Ajuda Ricardo a arrumar livros.

SOPHIA

Nós calamos-nos então, por ignorarmos se o arrependimento seria sincero; mas agora!...

LUCAS

Agora? agora era caso de eu não tornar a pôr os pés aqui, se elle recusasse ! Marido e mulher tornaram-se modelos de virtude e de caridade verdadeira.

RICARDO, sorrindo

E por amor da caridade absolve-se toda a gente...

LUCAS

Toda, sim senhor; perdoar tambem é caridade.

OLYMPIA

Eu sou amiga de Leopoldina e de Paulo; não sei nem quero saber mais nada.

RICARDO

É o melhor. Eu tambem nada sei; e heide

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