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JERONYMO

Minha senhora...

ELISA, aos outros

Segundo as disposições, que ouviram ler, este senhor perdeu o direito de assistir á abertura do testamento; se necessario fôr, peço o auxilio de todos os co-herdeiros para que o obriguem a saír d'esta casa.

TODOS, excepto Julio, investem contra Jeronymo, gritando Fóra! fóra! fóra!

JERONYMO, detendo-os com a espada

Ai do que me tocar! (A Elisa.) Eu já sabia que o meu logar não era entre esta gente; mas pesa-me que v. ex.a julgue preciso usar de violencia para me excluir d'um beneficio, que nunca sollicitei nem esperava. (Voltando-se para os co-herdeiros, com ironia.) A vós, homens de bem e senhoras virtuosas, encarrego da minha justificação. (Cumprimentando respeitosamente Elisa, que não lhe corresponde.) A fortuna dá sempre rasão aos que a não téem! (Dirigindo-se novamente aos co-herdeiros, com despreso.) Adeus, gente honrada; crescei e multiplicae, para

honra e gloria de muitos testadores e da so

ciedade a quem illustraes.

Arroja a espada, toma o chapéo e sae.

ANDRÉ, pegando na espada

Um desafôro assim ! (A Elisa.) Se vossencia aqui não estivesse, desafiava-o!

ELISA, voltando-lhe as costas, com desdem

É mais prudente ir desafiar a ceia.

O pano cae.

ACTO TERCEIRO

Salão do primeiro acto

SCENA I

JERONYMO, que vae atravessando o salão para saír, pára, olhando para a porta dos quartos de Elisa

Adeus, Elisa! Deus te deixe ignorar sempre, que eu não era indigno de ser contemplado n'esse absurdo testamento; terias crueis remorsos se tal succedesse ! Expulsas-me, porque sustentava a tua innocencia!... pobre creança. Não é tua a culpa; foi de meu padrinho, que era um pateta com as suas excentricidades. Depois de ter vivido como miseravel usurario, deixa o seu dinheiro a patifes! Adeus!

Vae para sair encontra-se com Julio,

SCENA II

JERONYMO e JULIO

JULIO

Felizmente, ainda o encontro!

JERONYMO

Que quer de mim?

JULIO

Que em vez de sair para a rua, atravesse o jardim, entre na quinta, siga pela rua do meio e espere no fim d'ella. Ahi ha um largo excellente e ninguem lá vae a esta hora. A portinha pequena fica a dois passos, defronte ha uma botica e o luar é magnifico; parece tudo feito de proposito para nós! Eu vou continuar a ceiar e logo que as outras pessoas se retirem da sala, escolherei duas espadas eguaes, e irei ter ao sitio que lhe digo.

JERONYMO

Querendo afastar-se.

Eu não me bato com calumniadores!

JULIO, querendo pegar n'uma cadeira, com ar de ameaça

Senhor!

JERONYMO, com escarneo

Cautela! não grite, olhe que o expulsam tambem; o senhor é sobrinho direito e o velho tinha oitocentos contos.

JULIO, contendo-se

Não quero dar escandalos, como usa a canalha.

JERONYMO

A qual d'ellas se refere? Á dos herdeiros, que engolem as calumnias, ou à dos que abaixam a voz, quando os affrontam, afim de não se exporem a perder o logar? JULIO, tremulo de colera, baixo

Não me lembrava, que estou fallando com um bebado!

JERONYMO, que tem como um estremecimento e vae para se agarrar a Julio, suspendendo-se

Esperal-o-hei no logar que indicou.

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Insolente! hei de dar-lhe uma correcção, sem prejuizo dos meus interesses... porque, devo ser franco: quem despreza o dinheiro, é tolo. Eu não esperava herdar; mas, uma vez que meu tio se lembrou de mim, aproveito-me. Quem sabe se elle me deixaria cem ou duzentos contos?... Seja o que fôr, convem-me e não devo fazer asneiras de que

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