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recia possesso do demonio! Obrigou-nos todos a jurar, que tinhamos mentido e que a mulher mais virtuosa que estava n'esta casa era a menina Elisa. Todos jurámos; podéra não!

ELISA, com as lagrimas nos olhos, lançando-se aos pés de Jeronymo e cobrindo-lhe as mãos de beijos

Nobre caracter! E nem uma palavra para se justificar!

JERONYMO, muito commovido

Oh! minha senhora! (Erguendo-a.) Que faz ?
ELISA, aos outros herdeiros

A disposição, que se discute, não hade cumprir-se; não podia ser intenção do testa. dor deixar tão grande legado a quem insulta a sua memoria, e a honra da que elle amava como filha. Sáiam de minha casa!

Sua casa?!

ISABEL

MORGADO

Annullaremos o testamento!

O Regedor e o Escrivão sentam-se escrevendo o auto de abertura.

ANDRÉ

Justamente; e n'esse caso só os parentes

herdam.

JULIO

Creio que pode fazer-se, visto não haver meio de conciliar todas as disposições testamentarias.

AMELIA

Demandemos; é preciso dar uma lição a quem nos quer pôr na rua.

ROSA

Mano André, amanhã faça o requeri

mento.

MORGADO, a Elisa

Era melhor vir a um accordo.

ELISA, a Jeronymo

O legado só deve pertencer ao senhor Jeronymo de Mendonça.

JERONYMO

Bem vê que não póde ser; a redacção do artigo é clara.

ELISA

Pois hei de vel-o ao senhor, que é tão

digno de ser rico, ficar sem nada; e entregarei aos outros... é impossivel!

ISABEL

Eu quero os meus duzentos contos; vou pedil-os aos tribunaes.

REGEDOR, intervindo

É inutil; desejam annullar o testamento? Ha um meio bem simples, e o meu defunto amigo auctorisou-me a empregal-o, se os interesses ou os desejos da senhora D. Elisa o exigissem.

Qual é ? Diga.

ISABEL

ELISA

Não me lembrava que a sua intervenção me podia valer. Em nome de meu padrinho lhe peço, que resolva isto, de modo que não prive o senhor Jeronymo de Mendonça...

REGEDOR, tirando um papel do bolso

Depende tudo d'este pedaço de papel.

JULIO

Que é então esse precioso fragmento?

REGEDOR

A certidão de edade da menina Elisa.

MORGADO

Que temos nós com isso?!

REGEDOR

Bagatella: os que passavam por paes d'esta menina é que eram os padrinhos; e o que passava por padrinho, era o pae legitimo, (Sensação geral) casado occultamente na capella do palacio pelo Prior Antonio Ra

mos.

ELISA, erguendo as mãos e olhando para o retrato
do desembargador com ternura

Meu pae!

REGEDOR, mostrando a certidão

Podem ler, se querem. Os assentos estão correntissimos nos livros da freguezia. Começa a arranjar os papeis, dispondo-se para saír com o Escrivão.

ISABEL

Meus ricos duzentos contos!... Levei um codilho mestre !

MORGADA

E nós? que viemos de Roriz, fazendo tamanhas despezas, para sermos victimas d'uma peça de entrudo?!

JULIO, sorrindo

Eu sempre apanhei um bom conselho !

AMELIA

Que logro tão desengraçado!... (Áparte.) E nem posso contar com o primo Julio, porque fez as pazes com a mana!

ANDRÉ, a Elisa

Muito estimo ter a honra de ser primo de Vossencia.

ELISA

Cumprirei em tudo a vontade de meu pae, declarada no seu testamento; cada um receberá a parte que ahi tem mencionada.

E os duzentos?

ISABEL

ELISA

Pertencem a quem tão sagrados direitos

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