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XVIII

E

Eduardo Prado

(1860-1901)

Não é uma transcrição de Eduardo Prado o trecho seguinte: é o elogio do seu «<lusitanismo», feito pelo escritor português Alberto d'Oliveira, e reforçado por êste com uma oportuna citação do escritor brasileiro Afonso Arinos.

A. DE C.

DUARDO PRADO era um daqueles Bra

sileiros a quem nunca poderia caber alcunha equivalente à de little Englanders, com que os imperalistas inglêses costumam fulminar os seus adversários.

O seu imperalismo era todo pacífico e ideal, mas orgulhosíssimo. Antes de qualquer recente e indecisa americanidade colocava sempre, de cabeça erguida, a sua multi-secular lusitanidade: Não se con

tentava de que o Brasil fôsse grande no espaço queria-o também grande no tempo.

Alegrava-o, de-certo, que o seu país ocupasse uma vastíssima fracção do globo terrestre, dentro de fronteiras que Portugal se não descuidara de traçar-lhe e guardar-lhe, com paternal e obstinada previdência, e para cuja defesa vitoriosa contra pretensões de estranhos, sabia que não fôra inútil o concurso dos velhos mapas coloniais, que continuam a morar na Tôrre do Tombo, venerável arquivo da família comum. Mas não o desvanecia menos ver o Brasil prolongado pelos séculos dentro, primeiro entroncado na história e na raça lusitanas, que prezava como próprias, e por essa ascendência ilustre ligado às outras raças históricas e pre-históricas que povoaram a Ibéria.

Bem longe de tratar o Avô português como parente pobre, que se não mostra às visitas, ou como estranjeiro hostil, de quem se suspeita, Eduardo Prado julgava-se tão legítimo representante, como qualquer Português do seu tempo, dos heróis gloriosos e magníficos que fazem da história de Portugal, por êle tida e

lida como também sua, uma das mais formosas da Humanidade.

E assim se empenhava em trazer sempre em dia a sua árvore genealógica nacional, e se honrava grandemente, no seu cavalheirismo nato, quer de partilhar as nossas glórias passadas, quer de reclamar a sua parte nas nossas angústias, preocupações e dificuldades, dando-nos carinho e confôrto quando não podia dar-nos louvores e aplausos.

. Da constância e vitalidade do seu afecto pela Pátria da sua Pátria-como a Portugal tão bem chamou outro seu ilustre patrício - fala-nos o saudoso Afonso Arinos, em palavras que merecem sempre menção, no seu belo discurso de recepção na Academia Brasileira. Assim diz êle, no tom doce de quem se confessava penetrado por iguais sentimentos e dava igual amplitude ao seu exemplar patriotismo:

<<Eduardo queria que o Brasil fôsse o santuário onde, dentro de menos de um século, os Lusíadas seriam guardados por cem milhões de Brasileiros; onde as tradições da velha terra lusitana, colori

das pelas do tupi-guarani e do negro, pudessem cantar, ao baque das enxadas e ao ruido das charruas, nos nossos hoje desertos, como cantam as tradições britânicas nas savanas da América do Norte, que, há meio século, eram conhecidas apenas pelas tríbus errantes do indígena, ou pelos quakers. Eduardo queria, senhores, que a história do Brasil fôsse e continuasse a ser o que, no dizer de Guizot, é a dos Estados-Unidos da América do Norte: o desenvolvimento da história da mãe-pátria. Esse moço, que podia repetir a trova da opereta, pois mais de uma vez realizou a volta ao mundo, parou comovido na ocidental praia lusitana, como junto ao poial da velha casa paterna; conviveu com os grandes homens que falam a nossa língua; ombreou e misturou-se com o povo; amou os olivais, os vinhedos, os castanheiros, as faias, os carvalhos, o quente colorido dos trajos e das trovas aldeas; e pôde ser, e foi, no seu cosmopolitismo, no seu variado conhecimento de tantos povos e tantas línguas, um amigo sincero e estremecido, não só do Brasil, mas do Brasileiro. >>

Compreende-se melhor, depois de ler estes períodos, que Eça de Queiroz e Eduardo Prado, como espíritos que tanto tinham a dizer um ao outro, fôssem amigos fraternos.

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E não se compreende igualmente que esta amizade é afinal a mesma que liga, e sempre ligará, Portugal ao Brasil, e que se afeiçoará e crescerá, na mesma proporção em que fôr crescendo o número de Portugueses cultos como Eça de Queiroz, e de Brasileiros cultos como Eduardo Prado?

(Do livro Eça de Queiroz, Lisboa, 1919, pág. 177 a 182.)

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