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AS QUEIXAS DOS POETAS CONTRA A MALÍCIA

DOS TEMPOS

Bocalino. ¡Ora, galantes homens são os poetas! Todos vereis queixar da malícia dos tempos e da avareza dos príncipes. Eu provo que nunca os tempos foram menos maliciosos, nem os príncipes menos avaros. Se não, dizei-me: ¿como podem os tempos deixar de ser muito bem inclinados, se êles sofrem tal quantidade de desvarios, como no mundo. correm com o nome de poesias? ¿E como deixariam os príncipes de ser agora mais liberais, se os poetas são tantos, que não há monarca no mundo que tenha hoje para poder dar um almoço cada ano aos poetas da sua freguesia? Quando se pagavam os versos a pêso de ouro por Augusto César (que sabe Deus se seria, ou não seria...) é porque era um só Vergílio o que poetizava; mas hoje, que se comutaram a poetas tôdas as sete pragas do Egito, ¿ quem quereis vós que os farte, quanto mais que os enriqueça?...

MULHERES DOUTORAS, AUTORAS
E COMPOSITORAS

Lipsio....Certo, é de grande louvor em uma mulher, cultivar tão varonilmente o entendimento pela parte laboriosa... Não foram elas pior aquinhoadas que nós outros superamo-las, sendo mais robustos e capazes para os trabalhos de alma e corpo; não porque o espírito reconheça ou se dobre à fraqueza do sexo...

Quevedo. Eu, na minha Culta Latiniparla, e o Autor, na sua Carta de guia, não parece que nos amassêmos bem com mulheres doutoras, autoras e compositoras. Porque, como dizia um cortesão, é triste cousa que estejais com vossa mulher na cama, na mesa, ou na casa, e andem lá pelas tendas mil barbados preguntando por ela. Mas, sem embargo dos embargos, louvemos estas nossas irmās... (1)

(Do Hospital das Letras, 4. Apólogo Dialogal.)

(1) Violante do Céu, e Bernarda Ferreira de Lacerda, duas poetisas portuguesas do século xvii.

XXII

Francisco Xavier de Oliveira

(1702-1783)

OS MALIFÍCIOS DO TIL

ISTA obra è engenhosa (1). Pretender

EST

a correcção da língua portuguesa foi

um assunto de que ouvi sempre rir em Portugal. Se nessa matéria se não deve seguir tudo o que êste autor escreveu, muitas regras se podiam tirar da sua invenção, para detestar algumas grosserias, que com pouco gôsto conservamos no idioma português, as quais com pouco trabalho, e quasi sem diferença, se podiam limar. Quanto aos vocábulos que acabam em ão como torrão, trovão, ladrão, sou bem contra êles, porque não acho impressão (2) que não duvide trabalhar nas Memórias que escrevo em português,

(1) Refere-se ao livro de José de Macedo, Antidoto da língua portuguesa.

(2) Oficina tipográfica.

por mêdo dêstes vocábulos, os quais sendo somente usados por nós-outros, não se acham nas impressões estranjeiros os o o com til por cima. Pode-se aqui imprimir em grego, alemão, holandês, italiano e francês, com muita facilidade; mas em portuguesão, difficilem rem postulasti!...

(Das Mémoires de Portugal, I, pág. 368.)

XXIII

Jaime Moniz

(1837-1917)

A LÍNGUA NACIONAL
NA ESCOLA SECUNDÁRIA

INTRE tôdas as disciplinas (do quadro dos estudos secundários) a língua

ENT

materna foi a que primeiro entrou ао uso do aluno; a que êle começou a adquirir nos primeiros tempos da infância; a que lhe prestou grande serviço antes da escola e o continuará a prestar depois dela.

A língua materna é a palavra interior de que se aproveita a cada instante o processo da nossa vida mental; a exteriorização por excelência, verbal e escrita, de nossas ideias e sentimentos; o meio em que podemos principiar a aprender e interpretar a vida da linguagem.

E' o centro de toda a disposição linguística; a expressão de que em regra faz uso a transmissão escolar; em-fim,

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