Imagens das páginas
PDF
ePub

sacêrtoum lampião de praça! É verdade que havia um a iluminar a misteriosa incógnita, no momento em que, na aflição, invocara o nome de Jenny, e conseguira, graças a èsse nome invocado, evitar a ulterior perseguição de Carlos. E é provável que fôsse esta a razão de semelhante desenho, visto que, em seguida, a mão escreveu por muitas vezes, e em diversas formas de letra: irmã, por sua irmã, por Jenny»!

Esta parte, de uma clareza ainda evidente, mas um pouco embaraçosa no que respeita ao significado do lampião, não deslustraria nenhum psicoanalista que a subscrevêsse.

«Depois chegou a vez de um órgão de igrejan - acrescenta Júlio Denis - «esbôço que só julgará incoerente quem se não recordar da Santa do calendário da qual êsse é o emblema. De facto, a idea do sacro instrumento veio de Santa Cecília, e a idea de santa não era das que acudiriam à mente de um protestante (1), se, cá na terra, alguma homónima, por canonizar, a não chamasse lá». (2)

(1) Carlos era protestante, mas Cecília era católica. (2) Júlio Denis, Uma Família inglesa, ed. cit., pág. 219.

Por vezes, ao ler os relatos psicoanalíticos de Freud ou dos seus discípulos, encontramos uma ou outra passagem interpretativa de associações de ideas um tanto forçada. Para que nada falte a Júlio Denis nesta descrição, até essa nota é um pouco dada nesta pas

sagem:

<Após isto> segue o romancista - «escreveu uma palavra absurda, singular, inqualificável: Ailicec; mas inverta-a o leitor e cessará a estranheza que ela lhe possa causar; seguiram-se-lhe outras não menos exquisitas e formadas de diversas combinações das mesmas sete letras que emfim apareceram dispostas por ordem natural da palavra: Cecília. Mais abaixo singular transição - escreveu Carlos, em caracteres bem legíveis, Papa; depois : -Calvino; e, acto contínuo, o nome de um compatriota e amigo seu que meses antes tinha casado com uma senhora católica».

Tôda esta parte se refere ao casamento de Carlos com Cecília, em que a preocupação da diferença de religiões era apenas o disfarce.

E mais abaixo conclui Júlio Denis êste relato com os seguintes períodos:

«Afinal a mão traçou, muito devagar, as duas

seguintes palavras reunidas:- Cecília Whilestone (1).

«A razão pareceu então despertar, e espantada com o que viu feito na sua ausência, tentou pôr têrmo a semelhantes imprudências e a mão sùbitamente passou um traço por as duas últimas palavras, logo depois de escritas».

Não vamos, neste final de volume, afirmar que o autor de Uma Família inglesa foi um predecessor de Freud. Seria injusto enfeixá-los no mesmo campo filosófico, pois as qualidades máximas destas duas individualidades marcam em campos diferentes; mas não receamos aventar que Júlio Denis era um extremado psicólogo, que, mais de quarenta anos antes dos trabalhos do Mestre de Viena, já dava valor, embora sem interpretação de conjunto, e em trabalho exclusivamente literário, a processos de investigação psíquica que só ùltimamente criaram foros de processos scientíficos.

E basta que lhe reconheçamos êste mérito para que o seu nome perdure como psicólogo de rara originalidade.

FIM DO PRIMEIRO VOLUME

(1) Era o apelido da família de Carlos.

[blocks in formation]

XII

XIII

VIV
XV

-

Poesias íntimas..

- O romancista..

Realista e paisagista...

A crítica dos romances..

XVI - Teatro de Júlio Denis.....

XVII-O médico nos seus romances..

XVIII - Júlio Denis e a psicoanálise.

I

13

27

51

67

89

105

123

141

163

175

196

227

243

269

289

313

355

« AnteriorContinuar »