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E pelo estudo dessas obras, que são onze, é que tentarei difinir um pouco mais a personalidade artística de Bernardino da Costa Lemos, que a-pesar-de não ser uma figura primacial na pintura portuguesa, marca contudo uma fase tanto mais curiosa, quanto é certo a quasi negação que os nossos artistas têm sentido e sentem, pelo género animalista.

Como homenagem à terra que o viu nascer, usou Costa Lemos, como sigla uma mó, atributo característico de todos os seus trabalhos.

Ainda Volkmar Machado referindo-se aos quadros da colecção Mayne diz:

«... tendo cada hum delles duas pequenas mós,

que lhe servem como de firma, ou divisa».

Mas é inteiramente destituída de verdade a asserção das duas mós. Nos quadros presentes, nenhum é vinculado com mais de um destes atributos.

O material zoológico - pertença de frei Mayne - existente no convento de Jesus, foi mais tarde -1858-enviado para o Museu Zoológico de Lisboa, (Museu Bocage) sendo por essa altura que êste estabelecimento tomou conta dos quadros que dão origem ao presente apontamento.

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Os quadros, como ficou dito, reproduzem exemplares de fauna, sendo vulgar encontrarem-se os indivíduos representados, nos arredores de Lisboa, principalmente no Ribatejo.

As telas sem molduramento podem dividir-se em dois grupos, segundo as suas superfícies, exceptuando-se uma, a maior, a que primeiro vou referir-me para seguir a ordem das dimensões.

Primeiro, tela medindo, metros 0,74 × 0,57.

Ocupando quási todo o quadro, sôbre um fundo rochoso uma cegonha morta, ventre voltado para cima, membros inferiores hirtos, a cabeça seguindo sem torção o alongamento do pescoço; àsas graciosamente entreabertas.

A linha geral do exemplar, estende-se na diagonal que tem origem no vértice esquerdo da tela, ficando a cabeça em baixo, à direita, em completo perfil. O membro inferior esquerdo um pouco em abdução, projecta-se ligeiramente para o plano do fundo tocando quási o extremo da superfície; a ása direita, pela posição mais visível que a esquerda, dirige-se para cima sendo cortada pela linha de moldura.

A luz, caminhando de cima um pouco à sestra, como que vindo atravez um orificio, ilumina desigualmente a ave, incidindo à esquerda na região tóraxica, banhando um pouco a raiz da ása direita.

A tonalidade geral do quadro é agradável, sendo o claro-escuro bem distribuído. A plumagem é trabalhada com cuidado, sendo contudo mais para recomendar a modelação das asas. O que dá uma nota um pouco discordante, éa posição dos tarsos-metatarsos e dos dedos, que não mantem a finura do restante, sendo mesmo executados com falta de interêsse.

Todo o conjunto indicado, sobressai por fortes contrastes, obedecendo aos artificios adoptados então.

No plano do fundo, à direita a , timbro do artista, na qual se vê em caracteres sumidos a rúbrica do pintor, B. C. Lemos.

Como tive ocasião de dizer, êste quadro é o maior da colecção, seguindo-se mais dez, seis dos quais medindo igualmente metros, 0,685 × 0,465, e os restantes (quatro) metros 0,46×0,335.

Dos que têm maiores dimensões, encetamos a série, por uma tela representando um casal de Camões de bela pluma

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gem azul, finamente modelados, que em atitude airosa sulcam a margem de um regato.

Os animais são bem lançados, o desenho correcto, reproduzindo com felicidade a timidês que caracteriza êstes indivíduos; expressão viva, que fortemente contrasta com a monotonia da païsagem. Esta, compõe-se únicamente pelo segmento dum grande bloco de basalto, em que o artista pincelou obliquamente de espaço a espaço, traços sinuosos, mais carregados, para dar a fragosidade característica das aflorações desta natureza.

O terreno de um tom acastanhado escuro, deixa ver à direita a volta do ribeiro. A vegetação rara.

Como no quadro antecedente, à direita o emblema do autor, a , não rubricada.

Éste trabalho é bastante interessante e de difícil execução, pela plumagem dos exemplares oferecer poucos ou nenhuns contrastes, a não ser a mancha branca na parte posterior da cauda. As penas da cabeça e pescoço são indicadas com firme delicadeza, não podendo já dizer-se o mesmo dos pés, que sofrem do abandono notado no quadro atrás descrito.

Os fundos rochosos repetem-se, como teremos ocasião de ver, à medida que ante nós forem desfilando o grupo que me propuz registar, e dêste modo aparece-nos outra tela em que os personagens são pato-adem (fêmea) e um câmão.

O quadro tem por tonalidade geral uma côr escura, como a maioria dos desta colecção, vendo-se os exemplares representados, mortos, e em atitudes abandonadas. Os dois animais formam grupo, repousando o câmão, a cabeça no ventre do pato, que por sua vez a tem apoiado sobre a àsa esquerda entre-aberta do primeiro.

A execução dêste trabalho corresponde bem à factura cuidadosa dos antecedentes, continuando os pés a ser a parte fraca da obra.

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