Os ratos da Inquisição: Poema inédito do judeu portuguez Antonio Serrão de Crasto

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E. Chardron, 1883 - 207 páginas
 

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Página 93 - Porque o deixava de usar? Pois sempre ajuda a passar Qualquer trabalho passado. Canta o caminhante ledo No caminho trabalhoso, Por entre o espesso arvoredo; E de noite o temeroso, Cantando, refreia o medo. Canta o preso docemente, Os duros grilhões tocando; Canta o segador contente, E o trabalhador, cantando, O trabalho menos sente.
Página 81 - A ração ordinaria consta de meio arratel de carne cozida, que na verdade vem sem osso, como se costuma dizer; mas como o osso que lhe tiram entra no pezo do meio arratel, vem alguns dias a porção a ser limitadissima; mais algumas colheres de arroz, uma tigella de caldo e pão.
Página 93 - Parece que Antonio Serrão de Crasto recebia no seu carcere, uma por outra vez, a visita luminosa e consoladora de Camoens, que tambem inculcára a A critica de entranhas lavadas não deixará de ser benigna com uns defeitos que n'aquelle tempo eram os altos quilates do estylo culto—os equivocos, os trocadilhos, o marinismo, os concetti, hyperboles rabelaiseanas, o estylo pompasalutar efficacia do cantar nos desgostos da vida. Na a que começa: Sóholos rios que vão Por Babylonia, me achei...
Página 72 - Católica, convencido no crime de judaísmo, e por tal relaxado à justiça secular: Vista a disposição de direito e Ordenação em tal caso, o condenam a que com baraço e pregão pelas ruas públicas e costumadas desta cidade seja levado à Ribeira dela, aonde afogado (garrotado) morra morte natural, e ao depois de morto será queimado e feito por fogo em pó, de maneira que nunca do seu corpo e sepultura possa haver memória, eo condenam...
Página 65 - Onze vezes de folhas revestida, Onze vezes de flores adornada, Onze vezes de fructos carregada Te vi, ameixieira, aqui nascida. Outras tantas tambem te vi despida, De folhas, flores, fructos despojada, Pelo rigor do inverno saqueada, E a secco tronco toda reduzida.
Página 66 - Qual é o coração que em vós confia? Passando um dia vai, passa outro dia, Incertos todos, mais que ao vento as naves. Eu vi já por aqui sombras e flores, Vi aguas e vi fontes, vi verduras, As aves vi cantar todas d'amores. Mudo...
Página 146 - ... levais, então para peras levo, pois vos pago o que não devo, e vós rindo vos ficais: se pera flamenga achais a comeis em portuguez, e me fazeis d ' essa vez, com estrondo e com arenga, os narizes á flamenga muito mal em que me pez. A pera parda na cama de vós não está segura, e em vós...
Página 78 - Ainda espero vêr-te arder, Pois com tanta sem-rasão Murmuras da Inquisição; Porém, é força, em teu erro, Se te tratam como perro Que te vingues como cão. Dos ratos, d'esta maneira, Te queixas e de seus tratos; É máo queixar-'te dos ratos, Estando na ratoeira.
Página 117 - ... ninhada n'uma canastra, coitada! de um velho doente, e fraco, e lhe dê tão grande saco, ea deixe tão despojada! Que vós quando n'ella entrais sois a sua assolação, sua lagarta e pulgão, gafanhotos e pardals. Vós da coitada cobrais nata inteira, e meia nata; então dizeis, que pro rata commigo tudo partis, e no que dizeis mentis, como um rato e uma rata. Que eu ficara mui contente, e me estivera mui bem, se a metade do que tem partíramos igualmente: mas vós com dente insolente quando...
Página 30 - A voz tão divina e grave, A voz tão de prata e bella, Os galantes se alvorotam E ferve a bulha na feira. Deixam todos as boninas Só por ver esta açucena; Em um momento cercada. Se viu esta fortaleza. Os requebros que lhe dizem São balas de feras peças; Mas no ouro do seu peito Acham grande resistencia. Uns apreçavam a fructa, Outros tiram da algibeira Ás mãocheias os tostoens, Aos alqueires as moedas. r Mas Luiza, mui de espaço, Levantando a voz tão bella, De quando em quando repete: «Eu...

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