Imagens das páginas
PDF
ePub

mento, & q dizia muyto mais cousas que aquelas dos capitulos, & assi em outras que escreuera âtes dela. E ho gouernador lhe disse qera necessario auerlhe todos os terlados daquelas cartas pera mostrar a el rey seu senhor os enganos q lhe Antonio real tinha escripto, se não que seria necessario mandar a Portugal a ele Diogo pereyra pera q desse rezão de tudo a sua alteza, & por ele se tiraria hua inquirição de quanto tinha escripto. E ouuido ele isto, lhe pedio por amor de nosso senhor não fosse el rey sabedor de tal cousa, prometedolhe dauer os terlados que lhe pedia, & que ho da carta que dizia Antonio madeira lhe daria logo, & assi lho deu. E auido este terlado, o gouernador madou ao bacharel Antonio de vilhana ouuidor da India que co ho seu escriuão tirasse por testemunhas Antonio madeira & Garcia göçaluez acerca dos capitulos que virão que Antonio real mandara dele a el rey na carta que lhescreuera, & assi em outras, & ambos testimunharão os capitulos que atras disse, & conformarão ambos em seus testemunhos, se não que Garcia gonçaluez disse mais que Antonio madeira, que na ida de Malaca & tomada dela morrerão ao gouernador setecētas pessoas de doeça, de trabalho & de fome, & que ho proueito q el rey auia dauer ele ho veria: & que querendo ho gouernador partir de Malaca, lhe leuauão os doentes pera os mandar leuar â India, & ele não queria mandar que os leuassem, & dizia que coeles auia de soster Malaca pelo que eles morrião de pasmo, & quando se fora pera a India ninguem ho soubera, se não quãdo se fizera à vela, ao que a gente acodira á praya. E fora cousa espantosa as pragas que lhe rogauão, & apupadas que lhe dauão por se ir assi, & que a gête andaua cramãdo sem The nuca dar as partes que lhes vinhão das presas, ně lhes pagar soldo: & que as presas erão de que primeyro chegaua, & que alargara os mouros de Benastarim porque lhe peitarão, & que faria el rey bem de mãdar por dous judeus que trazia, que sabião quãtas roynda

des fazia, & q erão seus lingoas, secretarios & despenseiros: & que por estes saberia como passauão as cousas da India. E tiradas estas duas testemunhas, foy tambem tirado Diogo pereyra por testemunha se escreuera aqueles capitulos a Antonio real, & jurou que si. E despois de tudo isto estar assi feyto, veo ter Antonio real à Cananor nas naos q se hião pera Portugal q auião hi dabarrotar. E ho gouernador ho madou chamar â camara da sua nao estando coele muytos fidalgos & capitães, assi dos que hião pera ho reyno como dos que ficauão na India, & estaua hi ho ouuidor da India & Antonio daföseca seu escriuão, & Gaspar pereyra : & perante todos mandou ler os ditos das testemunhas pelos capitulos. E lidos, lhe foy dado juramento por Gaspar pereyra, que ho mandou ho gouernador se era verdade o que dizião aqles capitulos, & se sabia que os fizera: jurou que não sabia parte daqueles capitulos nem os mandara fazer, ne era verdade o que se continha neles. E despois disto mandou ho gouernador ler perante todos a carta que Diogo pereyra dissera que Antonio real escreuera a el rey: & lida ho ouuidor da India deu juramento a Antonio real que jurasse se escreuera ele aquela carta a el rey, & assi outra que lhe tambem escreuera Diogo pereyra. E ele jurou que era verdade q Diogo pereyra escreuera hua carta que ele mandara a el rey per Manuel de crasto capitão da nao scta Maria dajuda. E dizendolhe ho gouernador que desse ho terlado dela, ele disse que ho não tinha. É de tudo isto que se aqui passou foy feyto hu auto pelo escriuão do ouuidor, que ho gouernador mandou a el rey com os ditos das testemunhas sobre os capitulos, peraq soubesse a verdade: & algus cuydarão que ele quisesse castigar Antonio real, porem ele não quis ne por todas estas cousas lhe deixou de dar boa embarcação, nem a ele nem a Gaspar pereyra, & a Diogo pereyra disse nenhữa mà palaura, se não quando leo a carta pubricamente, lhes disse que se espantaua de serem tão immigos das cou

sas do seruiço del rey seu senhor, & tão enuejosos de as verem acabadas com boo cuydado, que trabalhauão com seus enganos & falsidades de danar hû homem que com tanto desejo & amor ho seruia na India. E porque muytos dos fidalgos & capitães isto sabião, tiuerão grande descontentamento de ver a falsidade dos capitulos, & pera dizerem a verdade a el rey, lhescreuerão os mais deles hua carta em que se assinarão, & quiseranna meter no maço do gouernador pera el rey, mas ele nã quis porq não cuydasse el rey que a pedira: & como Gaspar pereyra queria mal ao gouernador por lhe tornar esta carta em vituperio dizia que ele fizera fazer aquela carta aos capitães, não pera a mandarem a el rey, se não pera qenganassem coela ao gouernador que não deteuesse aquele anno a Antonio real & ho deixasse ir pera Portugal. E parecendo a Gaspar pereyra q faria pesar ao gouernador, conselhou a Antonio real que antes de sua partida mostrasse ao gouernador pubricamente hua carta que tinha del rey assinada por ele, & passada pola chacelaria da capitania de Cochim, & outras duas cartas, hua pera fazer hu nauio, & outra pera poder tratar com pimenta : & isto pera lhe mostrar quâta merce lhe el rey fazia & quanto folgaua co seu seruiço. O que ele fez estado ho gouernador bem acompanhado de capitães & fidalgos que forão coele ao mar roxo & leuarão lâ a vida que disse, que todos embruscarão vêdo tãtas merces a hû homem que leuaua boa vida e Cochim, & logo murmurarão daquilo: & por isso pesou muyto ao gouernador do alardo que Antonio real fez de suas cartas, & secretamente ho reprêdeo disso. E ele lhe disse q ho diabo ho tomara, & que Gaspar pereyra lho fizera fazer, & descobrio ao gouernador ho concerto per juramêto, q ele, Diogo pereyra, Lourenço moreno, ho vigayro & Gaspar pereyra tinhão fey to pera tratarem com a fazenda del rey, & isto dizia porq se hia pera Portugal. E acabadas as naos dabarrotar e Cananor, partiranse pera Portugal & forão cinco be carregadas despeciaria.

[blocks in formation]

CAPITOLO CXXVI.

De como o governador fez eteder a elrey de Cochi q nã era agrauado na paz co el rey de Calicut.

Estando ainda ho gouernador e Cananor, chegou hi ho messejeiro do embaixador do Xeque ismael, q fora a el rey de Daque, & ao Hidalcão, que como disse ho fora buscar a Goa & não ho achou por ser no mar roxo. E sabedo ho embaixador q era vindo, tornou ao mãdar visitar, & não ho achando ho messejeiro ho foy buscar a Cananor, onde soube que estaua, & deulhe ho recado do ebaixador, q era q sabendo ele as grandes cousas q tinha feyto na India, desejaua muyto de ho ver, & por ho na poder fazer ho mandaua visitar, & offrecerselhe por amigo. E deste messejeiro soube ho gouernador, q assi ho embaixador pera el rey de Daquem & pera ho Hidalcão, como o que fora a elrey de Cambaya, leuaua cada hũ cem êcaualgaduras, & baixelas de prata de seu seruiço: & que os reys a que hião dirigidos não quiserão tomar as carapuças que lhes leuaua da parte do Xeque ismael ne os liuros da sua seita. E vendo ho gouernador que ho messejeiro do embaixador era inclinado à ver as cousas dos nossos, mandoulhe mostrar a fortaleza, & porque estaua de caminho leuouho côsigo, & detendose em Calicut, lhe mãdou tambem mostrar a fortaleza, que estaua em tanta altura que podião assentar nela artelharia, & era quadrada & na quadra q ficaua na banda do mar estauão duas torres de fora do muro, & antrelas da parte de dentro estaua a torre da menaje pegada no muro em que estaua, & ao pé dela hu postigo pequeno pera receber socorro por mar. Nos outros dous catos que ficauão da banda da cidade tinha duas torres, & hua mayor hu pouco que baluarte & mais alta na porta da fortaleza que ficaua daquela parte, & suas bombardeiras ao derredor, & as torres q goardauão ho

[ocr errors]

.

pé do muro. E vista esta fortaleza, em cuja goarda ficou no mar dom Garcia com parte da armada ate ser tepo de se recolher, partiose ho gouernador pera Cochim, onde despachou ho messejeiro do embaixador, & lhe deu hu presente que lhe leuasso, & se mostrou muyto grande amigo do Xeque ismael, & lhe madou pedir por sua carta da sua parte fizesse muytos offrecimentos damizade ao Xeque ismael, & q tudo faria por amor dele, porque sabia q el rey de Portugal se aueria por muyto seruido disso. E por estas palauras & boo gasalhado, madou despois ho xeque ismael hû embaixador ao gouernador, como direy a diante, & despachou bem hữ Miguel ferreyra que lhe mandara com recado. E despois q ho gouernador foy em Cochim, com quato el rey se daua por agrauado dele pola paz com el rey de Calicut, & porq lhe dizião que a carregação das naos auia lá de ser dali por date, foy ho ver. E praticando sobristo, disselhe ho gouernador que não tinha rezão de se agrauar da paz co el rey de Calicut, porque el rey de Portugal lhe tinha be satisfeyto os seruiços que lhe fizera, & qa guerra que tinha dantes com Calicut era pola treyção que fizera ho çamorî, & pois era morto, el rey seu senhor queria auer piedade dos inercadores gentios de Calicut, & del rey, que se metia em suas mãos, & mais não sendo sua teção de fazer guerra se não a mouros, como se via nos lugares que lhes tinha tomado, & por isso se el rey de Coulão fizesse como el rey de - Calicut tambe se lhe daria paz. E por esta ser a teção del rey seu senhor, & ele ganhar coele, deuia de querer paz com el rey de Calicut & não agrauarse, que bem via ele que ho preço da pimenta de Cochim & os cusLos que fazia ate Portugal, não deixauão ganhar nela cousa qabastasse âs desordenadas despesas que fazia com a grande armada que trazia na India por amor da guerra. Ao que el rey de Cochi disse que be via tudo pore que ele auia de ter guerra com Calicut, porque assi o queria seu costume. E ho gouernador lhe respondeo

« AnteriorContinuar »