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do do Provedor da fazenda de S. R. M. e o que S. M. manda fazer acerqua dos direitos do triguo e sevada e mais legumes que desta ilha forem para a Cidade de Lisboa e mais partes fóra d'ella, que se não paguem direitos a S. M. e visto e praticado com os ditos omens da governança e mais povo meudo, Accordaram que não era em proveito do bem comum e povo desta Villa conseder S. M. tal Provisam, assim pella gramde e notavel perda que se dará a esta villa e ilha, a respeito que esta villa he toda de fidalgos moradores no reino e que não pagando direitos de suas remdas as levarão todas e ficarão os pobres e moradores desta villa e ilha perecendo á fome, e que outro sim os mercadores e chatins, andarão comprando os mantimentos pellas portas para os levarem a Lisboa e outras partes a respeito de não pagarem direitos e assim padecera esta ilha notaveis fomes e miserias e alem disso havendo como cada dia se esperam rebates de corsairos e mouros não tendo esta terra mantimentos se não poderá defemder nem de fóra lhe dodem vir pelo que por todas as vias consedemdose tal Provizam ficará esta illa arrisquada a se perder, e que antes requeriam a S. R. M. da parte de Deus Nosso Senhor não conseda tal Provizam. Antes sendo possivel the dobre os direitos, que levamtarlhos, pellos encomvinientes sobreditos, e que o que se pedio de não pagarem os ditos direitos fora mal assentado por quamto ficava semdo em proveito particular dos ricos e mercadores e não em proveito do bem comum, antes em notavel perda; e isto era o que respondiam e o asinarão os da governansa com os ditos officiais da Camara em presença de mi escrivam que dou fé darem a reposta atraz escrita. Antonio Gomes d'Azevedo Escrivam da Camara que o escrevi e assinei. Antonio Gomes d'Azevedo seguem-se as assignaturas de Belchior A. Paiva P.o Barbosa Raposo; P.o Tavares, Estevão Als. Bareiros, Manoel do Canto, Valerio Nunes de Perada, Manuel Travassos Paiva, Antonio Ledo Paiva. P.o de Braga Muniz, Amador Monteiro Soares, Thomé Jorge Paiva, Gonçalo Bezerra Tavares, Paulo Antonio, Jorge da Costa, Jeronimo Quintanilha, Felliciano de Torres, Sebastiam de Souza, Ambrosio de Sousa, Bartholomeo Cabral da Silva, Gaspar Manoel de Vasconcellos, e outros cujas assignaturas não entendeu bem.

(No mesmo Livro, fl. 224-226.)

VULCANISMO NOS ACORES

(Continuado de pag. 368 do Vol. IV)

XXVIII

ANNO DE 1808

ERUPÇÃO NA ILHA DE S. JORGE

Na noite amanhacendo para Domingo do Bom Pastor. primeiro dia do mez de maio do prezente anno de 1808, tremeu a terra tão frequentemente que se contavam oito tremores por hora, e d'estes foi um sobre a madrugada tão grande, que fez levantar o povo das camas. (1) No mesmo dia, estando já parte do povo na Igreja deprecan do a Deus nosso Pai, houve outro abalo tão forte que fez fugir todo o povo da Igreja. Das 11 para as 12 do mesmo dia houve outro tremor, e juntamente um estrondo tão grande que a todos atemorizou, (2) e de repente se viu levantar uma grande nuvem de fumo sobre o mais alto monte da freguezia da Urzelina no pico d'Antonio José de Sequeira e bem defronte da Igreja de S. Matheus) cuja planta e centro da freguezia era o mais agradavel da ilha, e por isso mesmo muito frequentado de muitos sugeitos bons e mãos de todas as ilhas, e em breve tempo engrossou e subindo ao mais alto céo fez arco sobre

(1)-Na semana antecedente a terra havia tremido por varios dias.

(2)-Este fenomeno foi presentido pelos irracionaes que se achavam nas proximidades do logar em que occorreu. Poucos minutos antes do acontecimento os gados, que se achavam proximos, começaram a mostrar-se inquietos e aterrados correndo, sem que houvesse tapumes que os podesse aguentar, para o lado norte da ilha. As pessoas que se achavam por aquelles sitios vendo a fuga dos gados seguiram estinctivamente o inesmo proceder: de uma d'ellas houvemos esta informação.

parte da freguezia das Manadas e da da Urzelina, indicando um terrivel castigo já mostrando nas redobradas e negras nuvens uus incumbrados montes, umas medonhas furnas.

Da bouca d'aquelle vulcão sahiam estrondos tão fortes e medonhos sem intervallo que convidavam aos habitantes d'esta ilha para juizo.

Correu todo o povo a deprecar a Deus, porem logo o povo da freguezia da Urzelina se auzentou deixando o seu Vigario o Rd.o José Antonio de Barcellos só no adro da sua Igreja, e logo no mesmo dia choveu tanta areia de tarde que ficaram as casas, chamadas do matto, cobertas de areia e os campos d'ali para cima em partes ficaram com altura de 7 palmos, e as vinhas dos castelletes até à Ermida de St. Rita, da freguezia das Manadas, ficaram cravadas e as casas quasi abatidas com o pezo, sahindo immediatamente linguas de fogo do centro que chegavam aos ceos, deitando pedras ignitas, de 8 palmos, em distancia d'um quarto de legoa, outras de 16 palmos em quadro e ou tras menores, que subindo à mesma altura cahiam como densos chuveiros.

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Chegou a triste noite, então é que desfalleceram os habitantes d'esta illa vendo todo o fogo e pedras ignitas, que sahiam como coriscos e quasi que pareciam cahir sobre os povos, e as vidraças das Igrejas pareciam quebrarem-se aos eccos d'aquelle pregoeiro, que nos ameaçava a morte.

Ate à terça feira 3 do mesmo mez rebentou o fogo em 7 logares, ficando a bouca ou vulcão perto da Ribeira do Arieiro, em cuja tarde abrandou o fogo: è na madrugada da quarta-feira, 4 do mesmo mez arrebentou o fogo entre as Ribeiras, a cima da fonte da Fajã, e da mesma sorte fazendo nuvem de pó de enxofre e terra que parecia arder todo aquelle logar. Logo fez Procissão 6 Vigario da Urzelina para a parte da Fajã com o Sr. St. Christo e Sr.a das Dores e a poucos passos encontrou-se com o Padre José de Souza Machado que tra ziam Provisão a Sr.a da Incarnação acompanhado de varias pessoas, mas quasi soffocados do muito pó enxofrado que estava cahindo; reutidos, aquella procissão, algum tanto animados, chegaram á Ermida da Sr. do Desterro, ainda que com muito traballio por que do cruzeiro para cima cahia muita terra sulfurea e tão pegajosa que muitas arvores cahiram com o pezo d'ella e o fetido entontava aos viajantes. Passados mais 7 dias rebentou o fogo nas areias da freguezia de Santo Amaro, onde abrindo duas bocas vomitava fogo à maneira de duas grandes ribeiras de materia fluida, e com tanta força que no segundo dia se achava á mais d'um moio de campo em Misterio que encami nhando se as casas fez pôr parte do povo em fugida, o Vigario o Rd.o Aniaro Pereira de Lemos esteve falto dos sentidos e a irmã D. Anna Maria de Lemos esteve douda.

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O Vigario das Vellas e Ouvidor o Rd.° Antonio Md. Teixeira, te

mendo fosse o fogo à villa mandou deitar pregão para que se retirassem, que mudava o Sacramento para a Beira e d'aquí resultou um levante que se não póde explicar.

As freiras foram para a Igreja de Rozaes; o Ouvidor e outros clerigos para o Fayal; o Doutor Juiz de Fora e outros para o Pico e o mais povo de quasi toda a villa foi para a Beira e Rozaes Este levante foi sem maior necessidade, por que no dia em que o fizeramı foram ver o fogo que já pouco corria e só por dentro da ribeira.

O alto da terra por onde o dito fogo passon ficou abatido e em grotas formidaveis, os caminhos quebrabos de forma que não passavam carros nem gente por parte, as fontes seccas.

Poucos dias depois retroceden ao primeiro logar em que tinha rebentado, defronte da Igreja da Urzelina, com a mesma força que dantes, e prezerverou doze dias, em que foram continuas as suplicas a Deus e por não sermos ouvidos do Senhor, por serem as culpas em maior numero que as suas mizericordias, continuou o mesmo flagello, sahindo do vulcão (que dizem ter bocca em circumfer. ncia de um moio de campo) muitas areias, que arruinavam parte dos campos da referida freguezia de S. Matheus e das mais circumvizinhanças, e chegou a cahir na ponta do Pico, em Angra São Miguel, e para a parte da villa não cahio por que os ventos sempre cursaram pelo nor

noroeste.

N'este tempo todo o povo da Urzelina se ausentou desamparando todos as suas moradas. uns para as Manadas, outros para a Calheta. outros para Rozaes e uns para Angra, isto o povo da Urzelina, ficando só o Rd. Vigario no adro

Observou-se que em quanto a maré enchia aquelle vulcão embravecia mais e deitava com mais força pedras marmoras grandes, umas das geraes eram muito pretas e pezeadas e ferião lume, e outras á maneira de vergas, de lagens, e outras redondas, umas muito bran cas e partidas reluziam pelo muito salitre que tinham.

Em uma noite estando o Vigario da Urzelina em guarda de sua Igreja, sendo já honze horas e meia, pegou a observar umas ribeiras de fogo, que vinham correndo pelo monte a baixo, e tocando a fogo apenas acudiram 6 ou 8 pessoas, que acompanharam o Santissimo, para a Ermida do Senhor Jesus, para aonde na mesma noite fez trasladar todas as Imagens, vazos sagrados e vestes sacerdotaes. Entraram logo a observar que os campos circumvisinhos ao dito monte se iam incendiando e levantando-se pedras como montes, que corriam ardentes até a planicie das vinhas, que faziam pasmar a quem tal castigo via.

Em dezassete do dito mez de maio vendo o Vigario das Manadas, o Rd. Jorge de Mattos Pereira que o da Urzelina se achava estrompado e com a sua gente dispersa veiu com parte dos seus freguezes å Igreja da dita freguezia de S. Matheus para salvar o que podesse

da dita Igreja, o que assim fez, e estando trabalhando na mesma derepente se levantou um tufão de fogo ou vulcão e introduzindo-se nas terras lavradias levantou todos aquelles campos até a baixo as vinhas con todas as arvores e bardas, fazendo se uma medonha e ardente nuvem e correndo até abaixo da Igreja queimou trinta e tantas pessoas na Igreja e nos campos, e vindo para a parte da Ermida do Senhor St. Christo tomou a luz ao sol de sorte que parecia uma tremenda noite, (4) e pensando o dito Vigario da Urzelina que era a ultimna hora de vida já tremulo tratava de consummir o sacramento, mas em quanto se apromptou entrou a divizar uma pequena luz e esperando um pouco, vendo que ia esclariando, não quiz consummir o sacramento e salindo a Ermida logo se encontrou com o vigario das Manadas e um clerigo queimados todas as mais pessoas que com elles entraram; uns por menos molestos foram para sua casa e outros ficaram na referida Ermida e casas vizinhas, por não poderem ir para as suas, vindo uns com os couros das mãos e pes pendurados, outros tão inchados e pretos que se não conheciam, outros com as pernas quebradas, e alguns espirando, todos pedindo sacramentos, e apenas os receberam alguns logo expiraram. (2) E vendo o Rd. Vigario que o fogo era cada vez mais e que se ia aproximando à dita Ermida levou o divino Sacramento para as Manadas para a Ermida de Santa Rita, em cuja tarde administrou os sacramentos a alguns dos seus freguezes, que ali se achavam queimados, e a ontros d'aquella freguezia das Manadas com licença do Rd.° Vigario.

No dia seguinte consummiu o Sacramento o Rd.° Vigario da Urzelina e a toda a pressa passou à parte do Norte por onde veio para o logor da Ribeira do Nabo para acudir a alguns dos seus seus freguezes, que para o dito logar se tinham passado queimados, isto por já não poder passar pelo sul pelos tufões de fogo que sabiam da bocca donde corriam caudalozas ribeiras de fogo em materias fluidas, que já chegavam quasi ao mar.

(1)-Foi este para os homens o mais terrivel dos acontecimentos deste vulcão. Manifestou-se pela primeira vez depois depois de começar o curso das lavas e foi então que produsio o maior estrago por ser ainda desconhecido. Por um pouco parecia que a actividade das crateras se suspendia. Seguiu-se a esta syncope a explosão d'uma nuvem escura que rojando-se pelo solo baixava pela vertente da ilha até ao mar com um força prodigiosa arrazando e queimando quanto encontrava; o que della respirava morria necessariamente. Os effeitos deste fenomeno fazem lembrar os do simaun do dezerto, assim não lhe ficaria mal o nome de simaun vulcanico.

(2) --Segundo os assentos da parochia foi neste dia 17 levado ao mar pelos áres pelo referido tufão Francisco José de Souza, casado de 50 annos de idade e morador na freguezia. Morreram mais no mesmo dia queimados pelo mesmo tufão Anna da Gloria, solteira de 49 annos de idade, Francisco Machado, casado de 30 annos d'idade, Luzia de Jezus, casada, Thereza Iguacia, viuva de 30 annos d'idade, João, solteiro de 14 annos José Silveira Borges, casado de 42 annos, João Espinola, casado de 55 annos.

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