naturalistas e tradicionaes da poesia camoneana. Sua espiritualisação pela verdade patriotica. Primeiro relance sobre o heroismo portuguez (46-56). Cap. II- - LUIZ DE CAMÕES 57 I. (1524-1553). Filiação. Reforma da Universidade: educação de Camões. Vinda para a côrte : a mocidade e as aventuras (57-65). Um amor. O degredo em Constancia : primeira revelação poetica. Parallelismo da ambição epica, no poeta e em Portugal. - Volta a Lisboa: segundo degredo para Ceuta : iniciação. Regresso á côrte: decisão da viagem á India (65-73). II. (1553-1570). A partida, a viagem. Primeira impressão da India. Expedição de Cochim. Expedição da Arabia. Desolação do seu espirito: saudades da patria. Estada em Goa revelação da satyra (73-84). Viagem ao Extremo-Oriente. Os portuguezes na China. A thebaida de Macau. Composição dos Lusiadas. Sentimentos dominantes: amor e condemnação do mundo. Volta de Macau naufragio na Indo-China. Definição cabal do pensamento nihilista: apotheose da morte (84-94). Volta a Goa. Expedição de Damão. Vida na côrte. Viagem a Calecut. Viagem a Malaca e porventura ao Japão e as Molucas. Saudades da patria. Partida para Moçambique. Remate dos Lusiadas: o messianismo. Viagem para o reino (94-105). III. (1570-1580). Lisboa á chegada de Camões: a pestegrande. Camões, D. Sebastião e a empreza d'Africa. Crise do fim do seculo xvI. Partida da expedição de 1578. A Sebastianeida. Impressão do desastre de Alcacerquibir em Lisboa. Desespero: synthese da biographia de Camões; oração á Morte (105-115). Camões, symbolo nacional. Os Lusíadas e o sebastianismo. A alma e a vida do poeta, syntheses portuguezas (115119). Cap. II- -A ÉPOCA DAS CONQUISTAS 120 I. Definição do heroismo nos povos. Distincção entre os temperamentos subjectivos e objectivos, nos povos do norte e do meio-dia da Europa. Momento em que appareceu Camões. Caracteres do heroismo portuguez: a falta de disciplina, o illimitado da ambição. Approximação dos povos heroicos e dos povos egoistas (120-128). II. Caracteres da época em Portugal: o imperialismo politico, as descobertas e conquistas, ò absolutismo religioso. A côrte nova: a fidalguia, o clero. Acção do commercio oriental. Os escravos (128-141). A religião. A justiça. A riqueza. Estudo da sociedade portugueza, nas comedias de Gil Vicente (141-151). III. Na India: o imperio portuguez. Goa triumphante. Paisagem da ria: a natureza absorvente (151-157). O triumpho de D. João de Castro. Descripção da cidade e dos habitantes (157-173). Caracteres do imperio dos portuguezes: a ferocidade pela fé e pela cobiça. Orgia ultramarina. Goa-Babylonia. Regresso á patria (173-182). IV. Idealismo portuguez opposto ao naturalismo castelhano. O desejo da honra; a nobreza; a imitação classica e o estoicismo (182-186). Cap. IV.- A RENASCENÇA. 187 I. Equilibrio dos espiritos n'um idealismo espontaneo. Alegria e esperança do mundo ao saír da Edade-média. Neo-paganismo catholico. Desillusão provocada pelo protesto da Allemanha. Reacção meridional. Separação da Europa. O Deus de Camões. Platonismo (187-195). Explicação do paganismo camoneano. Virgilio e Camões, os Lusiadas e a Eneida. Necessidade nova de symbolos naturalistas que o Christianismo só formára antithetica ou diabolicamente. Concepção do mundo e da historica. Apotheose da vida: optimismo (195-217). II. As descobertas: espanto do mundo. Confiança na verdade natural. Os phenomenos cosmicos. Animisação da natureza: o Adamastor (217-232). O sonho de D. Manoel. Descripção da India. As paisagens, a ethnographia, os costumes: sacrificio da virgindade, polyandria dos nayres; a historia. O Pegu, Sião, a'China e o Extremo-Oriente. Regresso para o occidente: a Arabia, a Persia, Monomotapa, o Nilo e o Egypto, a America, a Europa e Portugal (232-256). Crise da consciencia. A sciencia e a fé: solução camoneana. Absolutismo da fé: condemnação das heresias, apotheose da Egreja. Missão de Portugal na guerra religiosa da Europa. Imperialismo (256-262). III. Interpretação camoneana da fé pela virtude. Pensamento estoico, doutrina do bom-senso. Divinisação do mundo. Optimismo universal. A ilha dos Amores, porto de verdadeira, sobre todos os outros. O sentimento d'essa superioridade sancciona o egoismo, que é sem duvida uma expressão rudimentar da liberdade. Por isso, na serie historica dos momentos de agregação social, os periodos apparecem tanto mais comprehensivos e nitidos e os pensamentos tanto mais emergem d'esse egoismo primitivo ou inicial, quanto mais a sociedade caminha pela abstracção no sentido de supprimir os exclusivismos locaes, generalisando o amor natural a uma região ou a. um sangue, fundando o amor patrio na geographia ou na communidade de ascendencia. Esta idéa que, debaixo do nome moderno de nacionalidade, teve um papel tão predominante no nosso tempo, reconstruindo o mappa da Europa, não é, porém, mais do que a generalisação amplificada do instincto naturalista primitivo, e não contém em si maior somma de liberdade do que elle. A differença é apenas arithmetica. Hoje, vêmos povos que contam milhões de homens, movidos pelo egoismo, animados pela crença na propria superioridade, separados pelo sangue e pela lingua, oppôrem-se entre si, ferozmente hostis; da mesma. fórma que vimos, alongando os olhos para o passado, as luctas antigas dos clans e gentes, nas suas cidades em opposição organica, ou as guerras posteriores das regiões ou provincias, quaes se deram na França ou em Hespanha, e que em ambos esses paizes foram resolvidas no seio de monarchias inspiradas pelo racionalismo cesarista romano. A força que provém do gremio encerrado pelo sangue nos limites da ascendencia commum, é resistente como talvez nenhuma outra; mas ninguem dirá que seja a mais alta expressão civilisada, se por civilisação entendemos, como entendemos de certo, o progresso no sentido da liberdade que, dando azas ao pensamento, lhe permitte elevar-se nos céos, independente de todas as escravidões naturaes, de todas as ficções que nos encadeiam como grilhetas da fatalidade cega. Outra, maior, mais abstracta e por isso mais elevada e mais livre, é a idéa que funda a patria, á maneira romana e portugueza, na nobreza de alma de um povo e na fortaleza do seu peito, rasgando-o de par em par, para deixar entrar n'elle quem quer que se sinta incendiado na mesma fé, votado á mesma missão, sem olhar ao sangue de que descende, nem á terra d'onde procede. Só n'esse instante em que o amor primitivo se transforma na paixão ideal a que se chamou patriotismo: só então é que desapparece o egoismo particularista local ou nacional, e que um povo movido pela abnegação attinge o heroismo de que nós demos um exemplo lançando-nos á descoberta, embora a isso nos impellisse a fatalidade geographica e o instincto ethnico; aventurando-nos á conquista, embora a ella nos levasse tambem a ambição e a cobiça; votando-nos á propagação da fé christan que tinhamos como revelação da verdade absoluta, embora n'essa propria crença mostrassemos quanto é impraticavel ao espirito humano alliar o heroismo com a lucidez do pensamento, pairando olympicamente livre no ether puro que domina o mundo. III A conquista arabe consummou na Hespanha, conforme já dissemos, a ruina da sociedade antiga, e a reconquista é o berço de onde sáem as nações modernas da Peninsula. O fóco de resistencia conservado nas Asturias, durante os proprios dias da plena expansão do imperio islamita, é como o iman que attrae tudo quanto na Hespanha christan se revolta contra o dominio dos agarenos. A conquista, submettendo os restos deprimidos da sociedade antiga, fórça os elementos ainda robustos a avigorarem-se n'uma vida rude de combates quasi barbaros. O cultismo desapparece d'essa côrte asturo-leoneza, que a guerra, o isolamento no meio de um paiz inimigo, e a universal ruina do mundo antigo, fazem regressar aos typos archaicos da vida simples e energica dos tempos heroicos. Foragidos nas serras, forçados a uma vida permanente de combates, e a trocar os palacios requintadamente opulentos de que a lembrança se vae adelgaçando no tempo á medida que as gerações se succedem, pelas grutas asperrimas do monte e pelas picadas das brenhas serranas, os descendentes dos companheiros de Pelagio parecem-se tanto com Merowig, como os godos de Toledo se pareciam com os Cesares da decadencia. A ruina da civilisação determinava o regresso aos instinctos primitivos. Mas, parallelamente, no proprio seio da sociedade arabisada com maior ou menor intensidade, a conservação das instituições municipaes da Antiguidade, defendidas pelo clero que a tolerancia dos conquistadores protege, é outro fóco de resistencia embora passiva. No decorrer dos tempos, com a gradual constituição das sociedades neo-godas, os municipios serão o ponto de apoio do cesarismo monarchico e o elemento mais vigoroso de restauração das idéas antigas, nunca esquecidas de todo. |