O ANGULO BIORBITARIO DOS CRANIOS PORTUGUEZES

A IMPORTANCIA E A UTILIDADE DO ANGULO BIORBITARIO

O angulo biorbitario offerece tanto em anthropologia, como em zoologia e anatomia comparada, um interesse bastante grande; o seu estudo é por isso digno de se fazer.

O angulo biorbitario, isto é, a divergencia dos eixos orbitarios varía na escala animal, podendo dizer-se em numeros redondos que o angulo póde ter valores comprehendidos entre 30 e 160°. O valor minimo encontra-se nos primates; o maximo nos roedores e ruminantes.

Apezar do angulo biorbitario ser um caracter muito importante, visto que por elle se determinam os graus de inferioridade e superioridade na serie animal, não se pode dizer que elle tenha um valor decisivo, porque existem numerosas excepções ao caracter que acabamos de expôr. Citaremos nos primates o facto de a maior parte dos anthropoides terem o angulo biorbitario menor do que na especie humana; o que faria, se seguissemos como um caracter de inferioridade o augmento do angulo biorbitario, com que fossemos collocados na escala animal além dos anthropoides, o que seria um absurdo. Ainda assim, apezar d'essas excepções, o angulo biorbitario póde tomar-se como um caracter bastante aproveitavel para a seriação da escala animal.

Podemos tambem servir-nos d'esta medida como um caracter, ainda que pouco preciso, para a distincção das raças. Este angulo é um pouco mais aberto nos cranios do typo ethiopico do que nos dos typos caucasico e mongolico.

A média dos cranios ethiopicos é de 49° emquanto que a dos caucasicos e mongolicos está entre 42,5 e 47°:

Como caracter para a seriação da escala animal e segundo medidas por nós feitas sobre uma collecção de cranios de animaes existentes no Laboratorio Anthropologico do Muzeu

da Universidade de Coimbra, achámos para o angulo biorbitario os valores seguintes:

Como se vê, o decrescimento do angulo biorbitario, quando se passa dos roedores aos ruminantes, depois aos pachydermes, aos carnivoros e emfim aos primates, parece affectar uma

marcha bastante conforme á posição que occupam estas cinco ordens da classe dos mammiferos. Os angulos mais pequenos observam-se como se vê nos anthropoides. A média das nossas cinco medidas é de 37°.

No homem, dizem a maior parte dos anthropologos, que o angulo biorbitario tem por minimo 40° e por maximo 55.

Não foram estes valores por nós achados nos cranios portuguezes, visto que em 136 cranios que medimos não encontrámos valor algum para o angulo biorbitario que excedesse 50o, e mesmo com esta medida, só um encontramos; e nesses 136 cranios, existem 24 que medem menos de 40° e dos quaes, 7 medem 39, 13 medem 38, 1 mede 37, I mede 36 e 3 medem 35°. A média geral que está quasi sempre comprehendida entre 44 e 47°, é nos portuguezes de 42,50.

Medindo com o orbitostato de Broca 136 cranios portuguezes que fazem parte da collecção do Laboratorio Anthropologico do Muzeu da Universidade, achámos os valores que

se seguem: