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Æn.6.

grato fupre

A algus pareceo que fe offerecefle efta Chronica da Companhia de IESV Lufitana, ao ferenifsimo Rey D.Ioam III. que a fundou, que,parece,por direito nos pediam fuas cinzas efte reconhecimento;porque como por fua morte nam acabàram as obrigaçoes em nós, nam deviam fenecer as lebraças d'elle;& aindaque as cinzas (fegundo diz o princepe da poefia) fejam ingratas, Vineri in nós devemos fer a eftas agradecidos; que nam ma ferebat. exime do agradecimento aos vivos,a ingratidam que hànos mortos.Comtudo a mim me pareceo que faria mayor ferviço ao ferenifsimoReyjá defunto,fe dedicaffe antes efta obra a V.Mag.que a elle;ãtes a hű Rey dignifsimo fucceffor feu vivo, do que às cinzas delle jà mortas: primeiramente, porque o Rey que fucede he hua imagem viva, &,do que precedeo,nam ha mais que hua lébraça morta. Segundariamente, porque tenho por certo,que nenhúa coufa mais eftimará aquelle feficifsimo Rey, que a que mais redundar em hōra de hu Rey, que lhe reftaurou feu Reyno, & avivou fuas virtudes: porque afsim como he mayor façanha reftaurar o perdido, que confervar o alcançado;afsim julgará que mais fe deve offerecer as honras a hú Rey, que deo a vida a feu Reyno morto, do que a hum Rey,que confervou a vida em hum Reyno vivo: & quem duvida,que voffa Mageftade gloriofifsimamete reftauron o que o outro pacificamente conservou.

Acre

rezoés(álem das comuns de fucceffor particularmente representativas do ferenifsimo Rey jà defuncto, porque he V. Mag. fucceffor feu immediato, & animado: immediato no nome, que fe nam repete o de vòlla Mag.fem que immediatamente nos traga à memoria o ferenifsimo Rey Dom Ioam terceiro, quem repetio nunca Dom Ioam o quarto que lhe nam occorreffe logo o terceiro? He V. Mag. també fucceffor animado, & vivamente reprefentativo nos dótes, & reaes talétos,que nelle fe viam; porque em vofla Mag. fe ve a religiám, pera com Deos;a obediencia pera com a Igreja, a mifericordia,pera com os pobres; a affabilidade,pera com o povo; o amor à pàtria; o favor,pera com as letras, à justiça, & igualdade pera com todos; a afpereza no trato de fua real peffòa, que póde fer exemplo á penitentes religiofos,& tudo em tam perfeito grào, que nam parecem imitaçõens de tal Rey,mas vivos exemplares de tal virtude, & con vermos a yoffa Mag feito Rey,os que o conhecemos antes de o fer, podemos com mais rezám dizer o que Plinio 'lifongeava ao feu Emperador Vefpafiano, que nenhúa coufa em V. Mag.mudou a grande za de fua fortuna,mais que em lhe dar novas occafioens de fazer bem,& de parecer bom. Emfimemvofla Maglemos o fereniffimoRey D.Ioam terceiro, que V. Mag. melhor elcreveo & veiles, em fua peffoa, do que os efcritores defua vida o

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Plin.inpræ

fatadVefp. quam in te

Nec quic

mutavit fortunæ ampli rudo,nifi ut prodeffetatudepoffes,

b

Xenoph. in fuo Cyro. Bonus prin

ceps nihil no patre.

differt à bo

muy nobre,& mais animado defcedente d'aquelle grande Rey; porque fe o nam foy em todo no fangue, que he a menor parte, o foy em tudo no efpirito,que he a melhor arte: & fe nam he V. M. defcédente proprio no filhameto,he fucceffor legitimo nás obrigaçoes,das quaes hua muito principal he favorecer, & amparar a Companhia,que foy obra do braço d'aquelle efclarecido Rey; cótinuando volfa Mag.no amor que nos tinham, & favor, que nos faziam os ferenifsimos Reys Portuguefes, anteceffores de voffa Mageft.que fe entregaram tanto àCompanhia, que até fuas mef mas cófciécias della fiavam. Efte amor herdàrani do magnifico Rey D. Ioam o terceiro os ferenif finos Reys D.Sebaftiam feu neto, &D. Hérique feu irmám,& todos os princepes, & infantes, que pornos amare como pays, os ferviamos nós como filhos,que huna bo Princepe,como difle Xenophonte, nam fe diftingue de hum bom pay.

Efte reciproco amor himos jà vendo,& ef peramos cada dia ver mais transfundido no coraCam devoffa Mag. afsim como noffos primeiros Padres transfundiram em nós, filhos feus,o amor, que tiveram aos Reys de Portugal: de modo que os Reys teftàram em voffa Mag.o amor àCompanhia; & noffos Padres teftàram em nòs o amor ao Rey; eftes paffáram a nòs à obrigaçam de fervir a voffa Mageftade; aquelles paffáram a voffa Mag. a obrigaçam de defender aCõpanhia,

a qual

ponto,no ferviço de tam querido Rey; afsim pelo affecto,& obrigaçam, que temos a vofla Mageftade, como pela gratidam,& obrigaçoes, que devemos aos Reys anteceffores.

Dedicafe efta Chronica a voffa Mageftade aos finco annos de feu Imperio, tempo a que os Latinos chamam Luftra, em argumento, & vaticinio de quanto luftre crefcerá a eftas illuftres acçoens, & obras maravilhofas dos filhos da Companhia de IESV, com tam luftrofo, & real patrocinio. Dedicafe aos finco annos, debaixo da protecçam das finco quinas das armas de voffa Mageftade, ou das chagas de Chrifto nof fo Salvador, pera que o melmo efcudo defenda o Rey, & ampare a Companhia; porque dizem bem as chagas de Chrifto com o nome de IESV, & oefcudo do Rey com os foldados da Companhia.

Efte favor efpera noffa Religiàm de vossa Mageftade,nam fó pera que a defenda, como fizeram os Reys anteceffores com feu efcudo, & braço real, mas tambem pera que os filhos de fanéto Ignacio, na fombra,protecçam,& amparo de tal Rey, façam na pregaçam do Evangelho,& promulgaçam da fé taes acçoes, quaes fe contem neste volume, que offereço a volla Mageftade, cuja autoridade real nam fó hà de apadrinhar o credito das coufas grandes, que nelle fe efcrevem,mas tambem a peffoa, que as efcreve,

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Feftus, Var

ro,Plin. luapud Theat, verbo

nior, & alij

aur. linguæ

Luftrum.

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jecto do livro,& a mám do efcritor, offerecida com a pena, & com a vida ao mayor ferviço de tal Rey, de quem fou, & me profeffo o minimo, & o mayor fervo; o minimo, no merecimento de o fer; o mayor, no defejo de fervir. Guarde Deos á Real peffoa de voffa Mageftade, pera senhorear o mundo, & pera reynar no

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