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II

O ESTUDANTE

NTES de entrarmos pròpriamente no estudo das personagens dos romances de Júlio Denis, procuraremos estudar o seu autor, servindo-nòs, para isso, dos seus escritos e dos seus comentadores.

Só depois disso poderemos estabelecer paralelos e fazer confrontos.

Sem essa base não nos seria possível tirar ilações dignas de crédito.

Falemos primeiro do médico.

Júlio Denis foi o pseudónimo com que ficou sendo conhecido, através dos seus romances, o dr. Joaquim Guilherme Gomes Coelho, que nasceu no Pôrto, na rua do Reguinho, em 14 de Novembro de 1839. Foi baptizado na Igreja de S. Nicolau, da mesma cidade, em 18 do mesmo mês e ano.

Era filho do dr. José Joaquim Gomes Coelho, natural de Ovar, médico-cirurgião no Porto, e de D. Ana Constança Potter, da mesma cidade.

Foram seus avós paternos José Gomes Coclho, e D. Rosa Rodrigues, naturais de Ovar, e maternos António Pereira Lopes, natural do Pôrto e empregado da Companhia Geral do Alto Douro, e D. Maria Potter, também nascida. na mesma cidade, mas filha de Tomás Potter, súbdito inglês, natural de Londres, e de D. Maria Potter, irlandesa, ambos católicos.

Freqüentou as primeiras letras com António Ventura Lopes, em Miragaia. Era seu companheiro de trabalhos escolares um seu irmão mais velho, que, mais tarde, foi aluno distinto de matemática na Academia Politécnica do Pôrto, onde concluiu o curso de engenharia em 1855, com prémio em algumas cadeiras. A morte pela tuberculose veio surpreendê-lo dois meses depois de completar a sua carreira scien. tífica (1).

(1) Para a sua campa escreveu Soares de Passos o seguinte epitafio:

Vinte anos? Ai! bem cedo arrebatado
O guardaste no seio, ó campa fria!
Flor passageira, sucumbiu ao fado,
E seus perfumes exalou num dia!

Gomes Coelho dedicou-lhe uma poesia, em Dezembro de 1859, repassada de tristeza, e a que apôs a seguinte nota: «Duvidar da verdade desta poesia era duvidar dos meus sentimentos mais puros, dos meus mais queridos afectos e, nesse caso, não sei de palavras que me podessem justificar» (1). Dessa poesia, em que a forma é ainda hesitante, transcrevemos duas quadras, em que se refere à tragédia inicial da sua vida, a morte de sua mãe:

«E ai daquele que, no alvor da vida,
Perdeu p'ra sempre maternais afagos;
Ai, que bem cedo a vê ser consumida
Por mil anelos, mil desejos vagos.

«Ai, bem cedo o sentimos! Separados
Do sol que a infância em luz nos envolvia,
Quais estioladas plantas, assombrados,
A fronte, inda infantil, já nos pendia....

Rodrigues de Freitas, no discurso pronunciado, na abertura das aulas da Academia.

Quanta ilusão desfeita em seu transporte!
Sonhou glórias, talvez! Sonhou amores!
Tudo, tudo aqui jaz! Carpí-lhe a sorte:
Derramai-lhe na tumba algumas flores!

Está no cemitério de Agramonte, Pôrto. (1) Júlio Denis, Poesias, 9. ed., pág. 8

Era filho do dr. José Joaquim Gomes Coelho, natural de Ovar, médico-cirurgião no Pôrto, e de D. Ana Constança Potter, da mesma cidade.

Foram seus avós paternos José Gomes Coelho, e D. Rosa Rodrigues, naturais de Ovar, e maternos António Pereira Lopes, natural do Pôrto e empregado da Companhia Geral do Alto Douro, e D. Maria Potter, também nascida na mesma cidade, mas filha de Tomás Potter, súbdito inglês, natural de Londres, e de D. Maria Potter, irlandesa, ambos católicos.

Freqüentou as primeiras letras com António Ventura Lopes, em Miragaia. Era seu companheiro de trabalhos escolares um seu irmão mais velho, que, mais tarde, foi aluno distinto de matemática na Academia Politécnica do Pôrto, onde concluiu o curso de engenharia em 1855, com prémio em algumas cadeiras. A morte pela tuberculose veio surpreendê-lo dois meses depois de completar a sua carreira scien. tífica (1).

(1) Para a sua campa escreveu Soares de Passos o seguinte epitafio:

Vinte anos? Ai! bem cedo arrebatado
O guardaste no seio, ó campa fria!
Flor passageira, sucumbiu ao fado,
E seus perfumes exalou num dia!

Gomes Coelho dedicou-lhe uma poesia, em Dezembro de 1859, repassada de tristeza, e a que apôs a seguinte nota: «Duvidar da verdade desta poesia era duvidar dos meus sentimentos mais puros, dos meus mais queridos afectos e, nesse caso, não sei de palavras que me podessem justificar» (1). Dessa poesia, em que a forma é ainda hesitante, transcrevemos duas quadras, em que se refere à tragédia inicial da sua vida, a morte de sua mãe:

«E ai daquele que, no alvor da vida,
Perdeu p'ra sempre maternais afagos;
Ai, que bem cedo a vê ser consumida
Por mil anelos, mil desejos vagos.

«Ai, bem cedo o sentimos! Separados
Do sol que a infância em luz nos envolvia,
Quais estioladas plantas, assombrados,
A fronte, inda infantil, já nos pendia... »

Rodrigues de Freitas, no discurso pronunciado, na abertura das aulas da Academia

Quanta ilusão desfeita em seu transporte!
Sonhou glórias, talvez! Sonhou amores!
Tudo, tudo aqui jaz! Carpí-lhe a sorte:
Derramai-lhe na tumba algumas flores!

Está no cemitério de Agramonte, Pôrto.
(1) Júlio Denis, Poesias, 9. ed., pág. 8

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