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bliotecário do cardial Sforza, ensina na Universidade de Sapiência e funda, êle próprio, um biblioteca em Roma; Francisco Sanches, autor da síntese negativista Quod nihil scitur, professa nas Universidades de Tolosa e de Monpillher; Diogo de Gouvêa, o Velho-tronco da dinastia ilustre dos pedagogos Gouvêas — funda o Colégio de Santa Bárbara, em Paris, e a sua fama é tanta, que Fernel The consagra o Monalosphænum; André de Gouvêa, reformador do Colégio de Guiena, em Bordéus, amigo de Francisco I, professor em Avinhão, em Grenoble, em Cahors, é o mestre de Rabelais e de Montaigne, que o reputa «sans comparaison, le plus grand principal de France»; (1) António de Gouvêa, jurisconsulto, filósofo, professor da Universidade de Paris, iniciador da escola de Cujácio, íntimo de Felisberto de Sabóia, vence o insigne Ramus na disputa célebre em defesa de Aristóteles; Salvador de Fernandina, émulo do grande criador do Corpus juris, e Jaime Aça, capêlo ver

(1) Essais, 72.

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melho, ensinam na Universidade de Bourges; Pedro Fernandes de Évora e Diogo de Teive, professam latim e grego na Universidade de Paris; João Ribeiro, na de Beauvais; Frei Agostinho da Trindade, na de Tolosa; o elegante Francisco de Holanda, autor do Tratado de Pintura Antiga, vive na intimidade de Miguel Angelo, de Júlio Clóvio, de Sebastião del Piombo, do erudito Lactanzio Tolomei; Manuel de Teive é o discípulo amado de Fernel; António Pinheiro, sôbre cuja cabeça resplandece a mitra, é o discípulo querido de Strebée; André de Resende, latinista, arqueólogo, alma tocada da graça da Renascença, distingue-se em Lovaina; João Fernandes da Costa e o padre Vilhegas são reitores no colégio de Guiena; - três Portugueses insignes, Guilherme de Gouvêa, Álvaro da Fonseca, Diogo de Gouvêa, o Moço (¡ escrevo com comoção e com orgulho os seus nomes!) merecem a honra de ser eleitos em claustro pleno, nos anos de 1530, de 1538, de 1547, reitores da Universidade de Paris, então na frase de Ramus-a Universidade do mundo.

A êste alto grau de cultura da socie

dade portuguesa da Renascença corresponde o desenvolvimento da indústria da tipografia e do comércio do livro. Aos primeiros ensaios que, no fim do século xv, realizaram os impressores alemães, italianos e judeus, em Faro, Lisboa, Leiria, Braga - Samuel Gascon, Rabi Elieser, Abraão d'Ortas, Rabi Tozorba, Nicolau de Saxónia, Valentim de Morávia, Ermão de Campis, Pedro Bonshomens-sucedeu uma produção tão considerável, que Garcia de Resende regista o facto de, mercê da «letra de fôrma achada», crescerem a cada passo as livrarias; Cristovam de Oliveira conta, na abastada Lisboa do século xvi, cinco oficinas tipográficas e cincoenta e quatro lojas de livros; e não só os embaixadores de Veneza, Tron e Lippomani, mas o próprio cardial Alexandrino, espantam-se de ver a riqueza, a abundância, a variedade, do mercado de livros da Rua Nova. Lisboa não era apenas a metrópole comercial da Renascença: foi também, no século de D. Manuel e de D. João III, um dos mais intensos focos de pensamento da Eu

ropa...

(Da História da Colonização Portuguesa do Brasil, 1.o vol., Porto, 1922.)

XXVII

A

Laudelino Freire (1)

A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL

LÍNGUA portuguesa sofre o mal originário do insulamento. Não é falada, nem conhecida é, de outros povos cultos. Emergiu num canto peninsular, para ser quási afogada no regaço materno. O acaso, porém, quis que ela ressurgisse nos lábios de outra gente, que, elevando-se hoje a vinte e seis milhões de habitantes, tem o dever de fazê-la sua, conservá-la, amá-la enternecidamente e dar-lhe ingresso onde quer que se comuniquem línguas ou se enfrentem elas no

(1) O simples titulo de fundador e director da Revista de Lingua Portuguesa, do Rio de Janeiro, basta para definir êste benemérito «paladino da Linguagem».

contubérnio internacional, ou, por força imigratória, se contubernizem no pátrio território.

Uma nação que se vê invadida de estranhos idiomas e não sabe resguardar o seu materno do contacto absorvente-ou é que corroída já está pelo vírus da degeneração, ou é que lhẻ não perpassa o organismo o espírito de crença firme no futuro. O Brasil, a mais vasta e poderosa nação sul-americana, fecha o seu dizer e escrever dentro da periferia das suas fronteiras. Jamais pleiteou primazia às línguas do continente. Ao revés institui nos seus ginásios, o estudo do idioma de Cervantes, seu maior concorrente, ao mesmo passo que lhe disputam preferência, no próprio território, a germânica e italiana, e, em breve espaço, a que, oriunda de Norte-América, ou Grã-Bretanha, de roldão nos está invadindo.

Brasileiros, ou colónias dêles, que porventura fôssem procurar vida em alheias terras, teriam de submeter-se ao idioma regional. Aqui, não é assim. O estranjeiro que, quando quer, nos dirige, julga, aquilata, critica, vem para o Brasil ser estranjeiro, falar estranjeiro, viver

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