Dispersos de Camilo [pseud.]: Crónicas, 1848-1852

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Impr. da Universidade, 1924
 

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Passagens conhecidas

Página 302 - Ayres veio a minha casa, confirmar a alliança feita com seu pai, li-lhe no seu jesuitismo as refalsadas tenções, que o animavam nesta concordata joco-seria. O cuidado com que o meu caro amigo fechava a porta do meu quarto para não ser ouvido, não passou desapercebido para mim, que penetro no coração dos hypocritas com maravilhosa felicidade. O snr. Ayres de Oouvêa queria reptar-me aos tribunaes, mas não queria ser a testemunha presencial do seu triumpho.
Página 485 - Se já nas brutas feras, cuja mente Natura fez cruel de nascimento, E nas aves agrestes, que somente Nas rapinas aéreas têm o intento, Com pequenas crianças viu a gente Terem tão piedoso sentimento, Como co'a mãe de Nino já mostraram...
Página 266 - Afirmam autores de boa nota que a mulher é femea, femina. Neste parecer abundam D. Antonio Ayres de Gouveia, bispo do Algarve, na Reforma do aprisoamento, e Bento Pereira na Prosodia* (cit. por Dias Costa). Em 1876 no Filho Natural persiste na dentada : «... e lá vinha o caso de sua alteza real em pequenino furar a barriga das galinhas com um saca-rolhas, facto restabelecido e autorizado pelo sr. dr. bispo Antonio Ayres de Gouveia, no seu livro da Reforma das Prisões > (cit.
Página 309 - Ò author das commendas era um indecente bemaventurado, se fosse um poeta. O escandalo, pulido pelo verniz do talento, pode provocar o ódio judicioso das pessoas honestas, mas encanta muitas vezes a cabeça dos que sabem perdoar a um genio despeado, insoffrido, e intolerante. Desgraçadamente, porém, o poema do sr. Antonio Ayres provoca tanto mais o vomito, quanto, em justa harmonia com o mal amanhado dos seus versos aleijados, progride cada vez mais descomedido em porcarias e desenfreados insultos....
Página 262 - A honestidade é uma virtude nos escriptos como nos costumes.» O sr. Aires de Gouvêa não sacrificou a algum d'estes modelos. Desvelou-se em transcender a ferocidade satyrica de José A. de Macedo. Desvaneceu-se em fecundar, na sujidade de seus grosseiros instinctos, obra, que se estampasse original e unica na vanguarda de todas as insolencias impunes. Recrutou epithetos e imagens desinvoltas, que não passam sem pudor entre os labios d'um lacaio. Antepoz, mentida e estupidamente, o seguinte prologo,...
Página 261 - Ninguem, naturalmente, tractaria de saber se a alma tinha fibras, ou se o cahos tinha meio;— o que importava ao philosopho, ao dramaturgo, e ao curioso era saber quem fora esse martyr crucificado pela sociedade ? Qual era esse coração generoso que sorveu gota a gota o fel corrosivo da escoria da sociedade? Qual era essa alma, estalada nas suas fibras pela escoria da sociedade ? Era o sr. Antonio Fructuoso ! Sahia-nos o sr. Antonio Fructuoso, simples, incognito, ordinario caixeiro d'uma casa de...
Página 311 - ... com o lustre de torpidades indecorosas, villans, e suas ?! É preciso que o publico esteja em dia, hora, e minuto, com os meus altos e baixos nesta involuntaria e muito constrangida analyse. Não foi espontanea e anciosa de nomeada: hei-de repetil-o sempre. Forçaram-me com villanias, e traições, e cavillosos quebramentos d'uma alliança, que, tam vergonhosa para o snr. Gouvea, eu tinha assignado. Agora, neste momento, ha pessoa que me aconselha, e do seu conselho quer fazer um preceito —...
Página 256 - E esta uma phrase redonda e peremptoria, que, em litteratura, os criticos esposaram para avaliar o demerito de versos e prosas inqualificaveis. Posto que vulgarisada e applicada a esmo, sente-se a precisão de fechar com ella muitas leituras enjoativas, parvas, e cegas de toda a luz de entendimento e habilidade. É necessario que a obra seja pobre das primeiras noções da arte, pessima de engenho, e rimas, e conceitos, e senso-commum, para que um poema se abysme no chaos silencioso da sua desprezivel...
Página 300 - Disse-lhe então, em estylo gracioso, que me era preciso desfazer do attributo de burro que s. snr.* liberalmente me concedera. Noticiei-lhe que ia analysar o seu poema das Commendas, e ss* estremeceu. Forte de espirito e de caracter, o sr. Ayres desenhou-se-me em vulto de nobre moralidade quando, com muita independencia e convicção, me disse, — que criticasse embora o seu poema, que elle criticaria as minhas producções em todo o genero. Á vista de tanta dignidade e cavalheirismo, receando...
Página 312 - Hei-de de lá, ou de cá, fechar com chave de ferro esta boceta de lama, que será sempre o patrimonio talentoso do seu artifice. O sr. Ayres é do publico, é meu, que tambem sou publico, e tam estreitos vinculos de humanidade me cinjem hoje ao genio buliçoso de...

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