Imagens das páginas
PDF
ePub

Quem ?

ALVARO, voltando-se admirado

SOPHIA

A luz, que dissipa as trevas; a mão occulta, que suspende á borda do abysmo: a Providencia.

Alvaro abaixa a cabeça com ar meditativo, Ricardo e Polycarpo olham convencidos para Sophia: o pano desce.

ACTO QUARTO

A mesma sala do segundo acto

SCENA I

ALVARO, POLYCARPO, RICARDO, todos sentados; Polycarpo está no meio, com um dos pulsos na mão de Alvaro e outro na de Ricardo.

ALVARO, largando-lhe o pulso

E ha muito tempo que sente todos esses incommodos?

POLYCARPO

Haverá um anno, pouco mais ou menos. Alvaro encosta a mão na face com ar de quem reflecte.

RICARDO, largando o outro pulso de Polycarpo

O pulso está bom. Lembra-se de ter tido. alguma outra doença antes d'essa ?

POLYCARPO

Nunca tive senão umas sesõesitas em ra

paz.

RICARDO

Costuma tossir ?

POLYCARPO

Hum... raras vezes.

RICARDO

Tome a respiração. (Polycarpo toma a respiração.) Sente alguma difficuldade?

POLYCARPO

Parece que se me opprime o coração.

ALVARO

Bem; temos visto.

Levantam-se todos.

POLYCARPO, a Alvaro

Então que me diz?

ALVARO, um tanto constrangido

Ainda não posso dar-lhe a minha opinião. O senhor Ricardo Viegas, apezar de não ter completado o quinto anno, teve o tirocinio da Escola-medica e do Hospital; possue o que nós chamamos olho medico-e por isso lhe pedi que assistisse à conferencia.

Vou conversar com elle e depois lhe direi

o que penso.

POLYCARPO

Eu tenho animo para ouvir a verdade... e quero sabel-a; exijo-o formalmente. Fica responsavel pela minha morte, se me não avisar a tempo de eu dispôr as minhas coisas...

ALVARO, indicando-lhe uma porta á direita

Entre n'aquelle gabinete.

SCENA II

Polycarpo entra.

ALVARO e RICARDO

RICARDO, olhando para a porta que se fechou
atraz de Polycarpo

Coitado! Julga que o poderá salvar, mes

tre?

ALVARO, tristemente

Duvido. Diga o que lhe parece.

RICARDO

Eu! Primeiro que o meu professor ?!

ALVARO

Nós não somos medicos, Ricardo; somos

homens de boa vontade, dotados de alguma intelligencia, e vamos aventurar juizos ácerca de um amigo a quem desejamos a vida. Entremos no campo das probabilidades e das hypotheses; e, visto que teima em me considerar seu mestre, supponha que o chamo á lição. Falle.

RICARDO

Obedeço. (Depois de pequena pausa.) As dores de que se queixa o doente no epigastro, o seu emagrecimento, a sua côr terrosa, tudo parece indicar a existencia de uma doença organica, cuja natureza não me atrevo a determinar. Será scirrho no estomago? Será antes um kisto hydatico do figado?... Se fosse kisto poderia, talvez, inflammar-se, adherir á parte proxima do tubo digestivo, ou á parede anterior do abdomen, e curar-se, pela evacuação das hydatides; mas será a sede da doença no figado ou no estomago? O figado parece-me mais pequeno à percussão, e o doente queixa-se de digestões penosas... Eu submetto o meu juizo ao do meu sabio mestre, insistindo sempre em que o figado me parece affectado.

« AnteriorContinuar »