Orque me faz amor inda acá torto, O' mal te faga Deos desbergonçado, Rapaz bil, descortez, que me has guiado A ber a Biolante, que me ha morto.
Bila, por más non berme tomar porto En repofo ningun desbenturado, Mas para chorar fempre que abado As agoas dos meus olhos fom conforto. Bem vir fet tua madre Cypriana Una mundana aftrofa, deshonefta, Cruel, falfa, fem lei, dura, e tyrana :
Que a bós ella fer outra, e nao fer esta; Nao tiberas bontá tao deshumana Nem fora contra mi tao cruda befta.
EM quanto Phebo os montes accendia
Do Ceo com luminofa claridade,
Por evitar do ocio a caftidade, Na caça o tempo Delia defpendia. Venus, que entao do furto defcendia, Por captivar de Anchifes a vontade, Vendo Diana em tanta honeftidade, Quafi zombando della, lhe dizia : Tu vás com tuas redes na efpeffura Os fugitivos cervos enredando, Mas as minhas enredam o fentido. Melhor he (refpondia a deofa pura ) Nas redes leves cervos ir tomando Que tomar-te alli nelles teu marido.
SE de voflo formofo e lindo gefto Nafcêram lindas flores para os olhos, Que para o peito fao duros abrolhos, Em mi fe vê mui claro, e manifesto: Pois voffa formofura, e vulto honefto, Ein os ver, de boninas vi mil mólhos; Mas fe meu coraçao tivera antolhos, Nao víra em vós feu damno o mal funefto. Hú mal visto por bem, hú bem triftonho, Que me traz elevado o penfamento Em mil, porém diverfas phantafias :
Nas quaes eu fépre ando, e fempre fonho, E vós não cuidais mais em meu tormento, Em que fundais as yoflas alegrias.
"Hum tao alto lugar de tanto preço Efte meu penfamento posto vejo,
Que desfallece nelle inda o defejo, Vendo quanto por mi o defmereço.. Quando efta tal baixeza em mi conheço, Acho que cuidar nelle he grão defpejo, E que morrer por elle me he fobejo, E mór bem para mi do que mereço. O mais que natural merecimento De que me caufa hum mal tao duro, e forte, O faz que vá crefeendo de hora em hora. Mas eu não deixarei meu penfamento, Porque inda que efte mal me caufa a mortė, Un bel morir tutta la vita bonora.
Uantas penas, amor, quantos cuidados, Quantas lagrimas triftes fem proveito, De que mil vezes olhos, rofto, e peito, Por ti, cego, me vifte já banhados? Quantos mortaes fufpiros derramados Do coraçao, por tanto a ti fujeito? Quantos males, em fim, tu me tens feito, Todos foram em mi bem empregados. A tudo fatisfaz (confeflo-te ifto) Huma 16 vifta branda, e amorofa, De quem me captivou minha ventura. Oh fempre para mi hora ditofa! Que poffo temer já, pois tenho visto Com tanto gosto meu, tanta brandura?
Tempo acaba o anno, o mez, e a hora, A força, a arte, a manha, a fortaleza: O tempo acaba a fama, e a riqueza, O tempo o mesmo tempo de fi chora: O tempo bufca, e acaba o onde mora Qualquer ingratidao, qualquer dureza; Mas nao póde acabar minha trifteza Em quanto nao quizerdes vós Senhora. O tempo o claro dia torna efcuro E o mais ledo prazer em choro triste O tempo a tempeftade em grão bonança. Mas de abrandar o tempo eftou feguro, O peito de diamante, onde confifte A pena e o prazer defta efperança.
Ofto me tem fortuna em tal eftado, tanto a feus pés me tem rendido Nao tenho que perder já de perdido, Nem tenho que mudar já de mudado, Todo bem para mi he acabado, De aqui dou o viver já por vivido, Que aonde o mal he tao conhecido, Tambem o viver mais ferá efcufado.
Se me bafta querer, a morte quero, Que bem outra esperança nao convém E curarei hum mal com outro mal.
E pois do bem tao pouco bem efpero Já que o mal efte fó remedio tem, Nao me culpem em querer remedio tal,
A' nao fere o amor com arco forte, As fettas tem lançadas já por terra, Como fohia, já nao nos faz guerra, Porque a que nos faz he de outra forte. Com olhos pelos olhos nos dá morte, para acertar o que nao erra
Os voffos efcolheo em quem fe encerra Mais bem do que ha do Sul ao Norte. Concede-vos o amor tao grão poder, Que vós fejais do feu livre, e isenta : Apagou-fe a candêa no meio do confoante. Por iffo, Feliza, fe vos nao contenta Nao vades com o Soneto por diante, Que he fonho o que a phantafia reprefenta, CCXCIX.
Ues lagrimas tratais mis ojos triftes, Y en lagrimas paffais la noche, y dja, Mirad fi es llanto efte que os embia Aquella por quien vós tantas vertistes: Sentid mis ojos bien esta que Y fi ella lo es, ó gran ventura mia, Por mui bien empleadas las avria Mil cuentos que por efta fola diftes. Mas una cofa mucho deffeada, Aunque fe vea cierta, no es creida, Quanto más efta, que me es embiada. Pero digo, que aunque fea fingida, Que bafta que por lagrima fea dada, Porque fea por lagrima tenida.
Lhos formofos em quem quiz natura Moftrar do feu poder altos fignais, Se quizerdes faber quanto poffais, Vede-me a mi, , que fou vofla feitura. Pintada em mi se vê vossa figura No que eu padeço retratada eftais; Que fe eu paffo tormentos defiguais Muito mais póde vossa formofura.
De mi nao quero mais que o meu defejo: Ser voffo, e fó de fer voffo me arreio, Porque o voflo penhor em mi fe aflelle.
Nao me lembro de mi quando vos vejo; Nem do Mundo: e nao érro, porque creio Que em lembrar-me de vós cumpro com elle.
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