Ontente vivi já, vendo-me iscnto
Defte mal de que a muitos queixar via: Chamam-lhe amor; mas eu lhe chamaria Difcordia, e fem razao; guerra, e tormento. Enganou-me co'o nome o penfamento. Quem com tal nome nao fe enganaria? Agora tal eftou, que temo hum dia Em que venha a faltar-me o foffrimento. Com defefperação, e com desejo, Me paga o que por elle eftou paffando E inda eftá do meu mal, mal fatisfeito. Pois fobre tantos damnos inda vejo para dar-me outros mil, hum olhar brando; E para os nao curar hum duro peito.
Dao digas ella Nympha tao ufano:
Eixa Apollo o correr tao apreffado
Nao te leva o amor, leva-te o engano, Com fombras de algú bem a mal dobrado. E quando feja amor, fera forçado; E fe forçado for, ferá teu dano: Hum parecer nao queiras mais que humano Em hum fylveftre adorno ver tornado.
Não percas por hum vão contentamento A vita que te faz viver contente : Modéra em teu favor o penfamento Porque menos mal he tendo-a prefente, Soffrer fua crueza, e teu tormento Que fentir fua ausencia eternamente.
NAs Cidades, nos bofques, nas floreftas,
Nos valles, e nos montes, teus louvores Sempre te cantem muficos Paftores, Nas manháas frias, nas ardentes feftas: " E nefte Templo donde manifestas, E repartes agora teus favores,
Com Pfalmos, hymnos, e com várias flores Sejam celebres fempre as tuas feftas.
Eftes te offreçam pés, effoutros mãos ; De aquelles pendam fobre os teus altares Monftros do mar, de fervidao prisãos. Que eu cuidados, enganos, e affeiçãos; Muito maiores monftros, e milhares, Te deixo aqui de penfamentos vãos.
I queixofos de amor mil namorados E nenhuus inda vi com feus louvores: E aquelle que mais chora o mal de amores, Vejo menos fugir de feus cuidados.
Se das dores de amor fois mal tratados. Porque tanto bufcais de amor as dores ? E fe tambem as tendes por favores, Porque delias fallais como aggravados ? Não queirais alegria achar algua No amor, porque he compofto de tristeza; Na fortuna que achei mais agradavel.
Nella, e nelle achei fempre a mefma Lua, Em quem nunca fe vio outra firmeza, Que nao feja a de fer fempre mudavel.
SE choradas de dem mais duro E lagrimas choradas de verdade Porque as minhas que nafcem de amor puro Hum coraçao nao rendem a piedade? Por vós perdi, Senhora, a liberdade E nem da propria vida eftou feguro. Rompei de effe rigor o forte muro; Nao paffe tanto avante a crueldade. Ao prezar de défprezos dai já fim: Nao vos chamem cruel; nome devido A quem fe ri de quem fufpira, e ama. Abrandai effe peito endurecido.
Por o que toca a vós, já naó por mim: Que eu aventuro a vida, e vós a fama.
JA' me fündei em vãos contentamentos Quando delles vivi todo enganado De hum phantaftico bem, e de hum cuidado, De que fo cuidam cegos penfamentos. Paffava dias, horas, e momentos, Defte enleo de amores tao pagado, Que tinha fó por bemaventurado Quem fó por elles mais bebia os ventos. Mas agora, que já cahi na conta Defengana-me quanto me enganava: Que tudo o tempo da, tudo defcobre.
O amor mais caudalofo menos monta`;" Que he de goftos mais rico, eu ignorava, Aquelle que de amores he. mais pobre.
M huma lapa, toda tenebrofa Adonde bate o mar com furia brava, Sobre huma mão, o rofto, vi que eftava Huma Nympha gentil, mas cuidadofa. Igualmente, que linda, laftimofa Aljofar dos feus olhos diftillava: Omar os feus furores applacava Com ver coufa tao trifte, e tao formofa. Alguma vez na horrivel penedia Os bellos olhos punha com brandura, Baftante a desfazer fua dureza. Com angelica voz, affi dizia: Ah, que falta mais vezes a ventura, Onde fobeja mais a natureza!
E em mim, ó alma, vive mais lembrança y Que aquella fó da gloria de querer-vos, Eu perca todo o bem que logro em ver-vos, E de ver-vos tambem toda a efperança.
Veja-fe em mi tao ruftica efquivança, Que poffa indigno fer de conhecer-vos; E quando em mór empenho de aprazer-vos Vos offenda, fe em mi houver mudança. Confirmado eftou já nefta certeza ; Examine-me voffa crueldade;
Exprimente-fe em mi voffa dureza.
Conhecei ja de mi tanta verdade Pois em penhor, e fé desta pureza Tributo vos fiz fer o que he vontade.
Lluftre Gracia, nombre de una moça,
Primera malhechora en efte caflo A Mondoñedo a Palma, al coxo Traffo, Sugeto digno de immortal coroça.
Si en medio de la Iglefia no reboça El manto a vueftro roftro tan devaffo Por vós dirán las gentes rezio, y passo ; Veys quien con el demonio fe retoça. Puede mover los montes fin trabajo; Con palabras el curfo al agua enfrena; Por las ondas harà camino enxuto.
Averguenza fu patria, y rico Tajo, Que por ella hombres lleva màs que arena, De que paga al infierno gran tributo..
Ual tem a borboleta por coftume, Que elevada na luz da acefa vella, Dando vai voltas mil, até que nella Se queima agora, agora fe confume: Tal eu correndo vou ao vivo lume De effes olhos gentís, Aonia bella;- E abrazo-me, por mais que com cautella, Livrar-me a parte racional prefume.
Conheço muito a que fe atreve a vista; O quanto fe levanta o penfamento; O como vou morrendo claramente.
Porém nao quer amor que lhe resista,
Nem a minha alma o quer, q em tal tormento Qual em gloria maior eftá contente.
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