CCXCVII. Pofto me tem fortuna em tal eftado Se me bafta querer, a morte quero, Que bem outra efperança naó convém, E curarci hum mal com outro mal. E pois do bem tao pouco bem espero, Já que o mal efte fó remédio tem, Nao me culpem em querer remedio tal. CCXCVIII. JA' nao fere o amor com areo forte, As fettas tem lançadas já por terra, Como fohia, já nao nos faz guerra, Porque a que nos faz he de outra forte. Com olhos pelos olhos nos dá morte, E para acertar o que nao erra Os voffos efcolheo em quem fe encerra Mais bem do que ha do Sul ao Norte. Concede-vos o amor tao grão poder, Que vós fejais do feu livre, e ifenta: Apagou-fe a candêa no meio do confoante. Por iffo, Feliza, fe vos nao contenta Nao vades com o Soneto por diante, Que he fonho o que a phantafia reprefenta. CCXCIX. PUes lagrimas tratais mis ojos triftes, Y en lagrimas paffais la noche, y dia, CCC. Lhos formofos em quem quiz natura Pintada em mi fe vê vofla figura, f De mi nao quero mais que o meu desejo: Ser voffo, e fó de fer voflo me arreio, Porque o voffo penhor em mi fe affelle. Nao me lembro de mi quando vos vejo ; Nem do Mundo: e naó érro, porque creio, Que em lembrar-me de vós cumpro com elle. Q CCCI. Uem prefumir, Senhora, de louvar-vos Com humano faber, e nao divino Ficará de tamanha culpa dino, Quammanha ficais fendo em contemplar-vos. Nao pertenda ninguem de louvor dar-vos Por mais que raro feja, e peregrino; Que vofla formofura eu imagino, Que Deos a elle fó quiz comparar-vos. Ditofa efta alma voffa, que quizestes Em poffe pôr de prenda tao fubida, Como, Senhora, foi a que me déftes. Melhor a guardarei, que a propria vida; Que pois mercê tamanha me fizeftes, De mi ferá jamais nunca efquecida. Sonetos ADVERTENCIA. e na Pa Na Edição das Obras de Luis de Camões, que em tres tomos de doze fe fez em Lisboa no anno de 1772 na Officina de Miguel Rodrigues onde fao tantos os erros, como as palavras, fe acham 314 Sonetos, fazendo conta a fe acharem errados os numeros dos ultimos dous Sonetos; pois devendo fer 313, e 314, fe ve o mesmo numero 312 duas vezes repetido. De nenhu ma maneira devemos eftar por efte número de 314 , que fe acha nefta Ediçao rifienfe de 1759; (onde no fegundo Tomo fe acham 236, e no terceiro 78) porque na verdade nao fao mais que 301 os que existem do noffo Poeta; poftoque defconfiemos que alguns o nao fejao, como já advertimos na pag. 157) e fe eftes dous Editores augmentáram affim o numero, foi porque, nao fei fe maliciofa, fe negligentemente nas Impressões repetiram alguns dos mefmos Sonetos; como fe poderá ver nefta ultima de Miguel Rodrigues, na qual o Soneto 6 he o mesmo que o 119, 0 46 o mesmo que o 186, 0 101 o mesmo que o 271, 0 103 o mesmo que 0 264, 0 104 o mesmo que o 265, o 105 0 mesmo que o 278, o 106 o mesmo que o 185 0 109 o mesmo que o 134, 0 121 o mesmo que • 128 o mesmo que o 220, 0 136 o mes 221, Tom. II. M mo que o 222, eo 156 o mesmo que o 314. Advirta-fe tambem que na Ediça de 1720 feita por Jofeph Lopes Ferreira, a qual nos apresenta 302 Sonetos, fe acham tambem repetidos 4; a faber, o 101 que be o mesmo que o 226, 0103 que he o mesmo que o 217, 0, 104 que bé o mesmo que a 218, e a 105 que he o meno que 23460 |