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(monte da Phocida), o Pindo (monte da Thessalia) e o Helicon (monte da Beocia), na Grecia. Por Musa antigua deve entender-se a referencia a todos os poetas que na antiguidade cantaram acções heroicas, como a Argonautica (poema sobre a expedição dos Argonautas (1), por Apollonius də Rhodes (2), III sec. a. J.-C.); a Dionysiaca (aventuras de

Conta-se que este pediu a seu pae que lhe deixasse um dia guiar o carro do Sol, ao que Apollo accedeu, mas o imprudente não tendo podido desempenhar-se bem d'esse encargo, Jupiter o fulminou com seus raios precipitando-o no rio Pó (Italia). Representava-se Apollo sob a figura d'um bello mancebo imberbe com longos cabellos louros e a fronte cingida d'uma coroa de louros, Tinha por attributos a lyra, o arco e as frechas. Eram-lhe consagrados o loureiro e a palmeira. A mais bella representação d'este deus que nos legou a antiguidade é a estatua denominada o Apollo do Belveder que se vê em Roma, no museu Pio Clementino, no palacio dos papas, o Vaticano.

Velo

(1) Athamas, rei dos Mynios d'Orchoméne, na Beocia, Grecia, tivera da deusa Nephele um filho e uma filha, Phryxos e Helle, aos quaes, por se verem sujeitos aos maus tratos de sua madrasta Ino, Nephele mandou um carneiro, cujo velo era d'oiro, que os levou atravez dos ares; mas, no meio da viagem, Helle escorregou do dorso do animal e cahiu no mar, que tomou o seu nome, o Hellesponto. Quanto a Phryxos, dirigiu-se á corte de Aetes, rei da Colchida (hoje a Mingrelia russa, ao S, do Caucaso) e ali sacrificou o carneiro em honra de Jupiter e offereceu o velocino a Aetes, que o confiou á guarda d'um dragão (a). Entretanto, Pélias reinava na cidade de Iolcos, na Thessalia, depois de ter desthronado seu irmão Aedon, Para se destazer de Jason, filho d'este ultimo, aconselhou-o a que fosse á Colchida conquistar o d'ouro, Jason partiu no navio Argo, com os seus companheiros, chamados os Argonautas, no numero dos quaes se contavam os mais famosos heroes: Hercules, Castor e Pollux, Theseu, Orpheu, Lynceu. Ao abordar á Colchida, Jason, graças á connivencia da magica Medeia, filha de Aetes, conseguiu raptar o Velo d'Ouro. Em seguida regressou á Thessalia com Medeia, que tomara por mulher; mas, pouco tempo depois, abandonou essa princeza para casar com Glauca, filha do rei Creon. Medeia, furiosa, matou os filhos que tivera de Jason e, fugindo sobre um carro puchado por dragões alados, alcançou Athenas, onde se uniu com Egeu, filho de Pandion e rei de Athenas. Hoje, por comparação, dá-se o nome de Argonautas, aos espiritos aventureiros, que perseguem, por meios novos e ousados, um fim difficil de se conseguir, (2) Apollonius de Rhodes, poeta e grammatico de Alexandria, auctor erudito, eloquente e profundo.

(a) Dragão, animal phantastico, producto do temor e da imaginação dos antigos, era representado com garras de leão, azas d'aguia e cauda de serpente,

Dionysios, um dos nomes de Baccho (1)) de Nonnos (2); a Thebaida (3), de Staccio, e, sobretudo, a Illiada e a Odysseia de Homero (4) e a Eneida de Virgilio (5).- Antigua, por anti

(1) Baccho (Myth.) em grego Dionysios. Filho de Jupiter e de Semele (filha de Cadmo, rei de Thebas), era o deus do vinho. As lendas mytologicas contam que Baccho foi d'um grande soccorro a Jupiter naguerra dos deuses contra os gigantes. Foi considerado, depois de Jupiter, como o mais poderoso dos deuses. Representava-se algumas vezes com cornos na cabeça, pela razão de que nas suas viagens andava sempre coberto com a pelle d'um bode, animal que se lhe sacrificava, ora assentado sobre um tonel, ora sobre um carro, tirado por tigres, lynces ou pantheras; algumas vezes tambem com um copo na mão e na outra um thyrso do qual se servia para fazer brotar fontes de vinho.- Baccho, depois de homem, conquistou as Indias, d'ahi passou ao Egypto, onde ensinou a agricultura aos homens; foi o primeiro que plantou a vinha. Do orgulho dos seus feitos nas Indias lhe nasceu, segundo narra Camões, a má vontade contra Vasco da Gama e a armada portugueza, cuja futura gloria elle previa e receava.

(2) Nonnos, poeta grego, egypcio de nascimento (IV seculo).

(3) A Thebaida, poema mais historico do que epico, do poeta latino Staccio; trata da guerra de Polynice e Eteocles, obra de erudição mythologica, onde ha mais imaginação e espirito do que grandeza (1. seculo da nossa era).

(4) Homero, vid. nota, 1 pag. 15.- Illiada poema de Homero, em 24 cantos, a obra-prima da poesia epica. É a narrativa dos combates travados em frente de Troya pelos gregos, durante a retirada de Achilles na sua tenda. A morte de Patroclo, morto por Heitor; o despertar de Achilles, cujas armas foram tomadas sobre o cadaver do heroe, seu amigo; o encontro entre Heitor e Achilles, que triumpha do ultimo defensor de Troya, passeia o seu cadaver em volta das fortificações, mas o entrega ao velho Priamo, supplicante, para que lhe sejam feitos pomposos funeraes, taes são os principaes episodios d'este poema. Verdadeiras narrativas, retratos, descripções, batalhas, discursos, comparações, tudo é ali d'uma vida intensa. E um quadro completo da antiga civilisação grega. -A Odysseia, poema epico, attribuido, como a lliaada, a Homero, em 24 cantos,retraça as viagens de Ulysses (Odusseus), depois da tomada de Troya e o regresso d'esse chefe grego ao seu reino de Ithaca (vid. pag. 15 e a nota (1) á mesma. As suas longas e interessantes narrativas de viagens, as suas celebres pinturas de interior, os seus numerosos episodios, onde se revela um perfeito conhecimento do co ração humano, dão á Odysseia mais variedade e encanto que a Iliada. Um dos mais bellos fragmentos do poema, o episodio de Nausicaa, é um quadro gracioso dos costumes primitivos.

(5) Eneida. Celebre poema epico de Virgilio Vid. nota (a), pag. 15), em 12 cantos, sobre um assumpto supposto nacional; imitação mar

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ga (antiq.) Canta, por cantou, por se poder enunciar no tempo presente não só o que é actual mas tambem o que concebido como actual, isto é os pensamentos e declarações que se acham nos escriptos que o passado nos legou. Que, porque. Valor, feito, acção, empreza (metonymia, abstracto pelo concreto). Mais alto se alevanta, mais digno de ser cantado, que excede todos os outros. Alevanta, o mesmo que levanta, surge, se manifesta. Em muitas palavras, como n'esta, alevanta, o a não é prefixo, mas uma lettra adventicia, isto é, desprovida de significação grammatical (Gramm. de Epihanio).

INVOCAÇÃO ÁS NYMPHAS
DO TEJO

ESTANCIA IV

E vós, Tagides minhas, pois creado
tendes em mim um novo engenho ardente,
se sempre em verso humilde, celebrado
foi de mim vosso rio alegremente,
dae-me agora um som alto e sublimado
um estylo grandiloquo e corrente,
por que de vossas aguas Phebo ordene
que não tenham inveja ás de Hippocrene.

ravilhosamente habil da Illiada e da Odysseia (Vid. pag. 15 e nota (1 da mesma e nota (4) da pag. 20). N'essa composição se admiram a arte de reproduzir as paixões, a fina contextura dos versos, a perfeição de estylo da epopeia. Defeitos reaes no plano e na pintura dos caracteres são resgatados por uma execução bem rematada I seculo a, J. C.),

E vós, oh Tagides minhas, oh Musas do Tejo, pois tendes criado em mim um novo e ardente engenho, se sempre com elle foi alegremente celebrado por mim o vosso rio, agora me concedei, dae-me um som alto e sublime, um estylo grandiloquo e corrente, com que Phebo se digne de ordenar que as vossas aguas não tenham inveja ás de Hipocrene.

Vs. 1 e 2) E vós, Tagides minhas, etc. (apostrophe, vid. o noso folheto «Figuras de Estylo».) Tagides (Myth.) nymphas (1) do. Tejo (Tagus em latim). Pois, visto que.Creado tendes, por tentles creado, anastrophe. Novo, o mesmo que outro; contrapõe ao antigo engenho lyrico do poeta o engenho epico empregado n'esta sua obra. - Engenho, aptidão natural, talento. - Ardente, vehemente, enthusiastico (metaphora). A invocação ás musas é imitação dos poetas gregos e latinos que a faziam, para ellas lhes darem inspiração artistica.

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Vs. 3 e 4) -Em verso humilde celebrado, refere-se ás suas Rimas, composição do genero lyrico (2). Humilde, simples, singelo. Alegremente, palavra propria para exprimir a natureza do canto lyrico, que tem mais de aprazivel que de

grave.

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(1) Nymphas (Myth.), vid, nota (1), pag. 18.- Eram deusas que os Gregos attribuiam as bosques, ás aguas, ás grutas, Distinguiam-se as nymphas do mar (Oceanides e as Nereidas), as Naiades ( os rios, as fontes e as ribeiras), Driades e Hamadriades (as dos bosques), as Napeias (nas florestas e nos prados), as Oreades (nos montes). Eram filhas do Oceano e de Tethys, ou de Nerêo e de Doris.

(2) Genero lyrico. Este genero de poesia, cujo nome indica a antiga alliança com a musica, representava entre os gregos um numero consideravel de producções, que na origem eram todas susceptiveis de serem cantadas. Offerece grande variedade de especies que resistem á classificação porque as formas lyricas da litteratura portugueza atravez das correntes da imitação estrangeira, diversificam mais pelo arranjo estrophico e pelo artificio da rima, do que pela indole e variedade do assumpto. O poema lyrico é descriptivo e subjectivo, ao passo que o epico è sempre narrativo e objectivo e o dramatico é digressivo, ao mesmo tempo subjectivo e objectivo. É no lyrico a expressão poetica d'um facto, acção ou modo de sêr individual; no epico a exposição poetica d'um acontecimento importante, externo e social.

Vs. 5 e 6) Dae-me, concedei-me, inspirae-me; um som alto e sublimado, um tom, um modo de dizer mais elevado, mais sonoro e sublime, Estylo, maneira de exprimir os pensamentos; grandiloquo, nobre, elevado, pomposo; corrente, facil, fluente, não embaraçado, intelligivel,

com a

Vs. 7 e 8) A construcção d'estes dois versos preposição de no principio torna a inteligencia d'elles difficil. Gomes d'Amorim (1) cortou a duvida alterando o primeiro verso d'esta fórma

Para que a vossas aguas Phebo ordene

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De

Faria e Souza (2) mantem o de e traduz livremente: com que Phebo se digne de ordenar que as vossas aguas não tenham inveja ás de Hipocrene. Por que, para que. vossas aguas, ácerca de . onde bebo a inspiração. Phebo, o mesmo que Apollo (Myth.) vid. nota (3), pag. 18.= Hipocrene, fonte da Beocia (3), perto de Thebas. Conta-se que apenas Perseo (4) cortara a cabeça de Medusa, do san

(1) «Os Lusiadas de Luiz de Camões», Tomo I, pag. 185, Lisboa, 1899. (2) «Lusiada de Luis de Camões, principe de los poetas de Espana», commentada por Manuel de Faria e Sousa, Madrid, 1639.

(3) Beocia, região da antiga Grecia, capital Thebas,

(4) Perseo (Myth.), heroe grego, filho de Jupiter e de Diana. Cortou a cabeça de Medusa (a), esposou Andromeda (b), tornou-se rei de Tiryntho (antiga cidade da Argolida, Grecia) e fundou Mycenas, antiga cidade da Argolida.

(a) Medusa (Myth.) uma das 3 Gorgonas, monstros da Fabula, que tinham o poder de mudar em pedra todos os que olhavam para ellas. Era ao principio d'uma rara belleza e possuia uma magnifica cabelleira, mas tendo offendido Minerva (ou Pallas,) filha de Jupiter, deusa da sabedoria e das artes), esta mudou-lhe os cabellos em medonhas serpentes e deu aos seus olhos o poder de petrificar todos os que a vissem. Perseo cortou-lhe a cabeça, que elle depois levava em todas as expedições, servindo-se d'ella para petrificar todos os seus inimigos. É n'este sentido que em litteratura se faz allusão á cabeça de Me

dusa.

(b) Andromeda, filha de Cepheo, rei da Ethiopia (região do alto Nilo, ao S. do Egypto hoje Abyssinia, governada pelo Negus) e de Cassiopeia. Esta, tendo tido a ousadia de disputar o premio da belleza ás Nereidas (nymphas, vid. nota (1), pag. 22), Neptuno (nota (3), pag. 14), para vingar as suas nymphas, suscitou um monstro marinho que assolou todo o paiz. O oraculo, consultado, respondeu que era mister expor Andrómeda aos furores do monstro. A princeza ligada a um rochedo pelas Nereidas, ia ser devorada, quando Perseo, montado no seu cavallo alado, Pégaso, matou o monstro, quebrou as correntes de Andromeda e tornou-se seu esposo.-Andromeda personifica a mulher, a quem a sua fraqueza expõe a mil perigos. Deu-se o seu nome a uma constellação do hemispherio boreal.

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