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A terra com o ligeiro pé tocando.
Defce do afpero monte

Diana, já canfada da efpeffura,

Bufcando a clara fonte

Onde por

forte dura

Perdeo Actéo a natural figura.
Affi fe vai paffando

A verde Primavera, e o fecco Eftio:
O Outono vem entrando ;

E logo o Inverno frio,

Que tambem passará por certo fio.
Ir-fe-ha embranquecendo

Com a frigida neve o fecco monte;
E Jupiter chovendo

Turbará a clara fonte,

Temerá o marinheiro a Orionte.
Porque, em fim, tudo paffa;

Nao fabe o tempo ter firmeza em nada:
E a noffa vida escaffa

Foge tao apreffada,

Que quando fe começa he acabada.
Que fe fez dos Troianos
Heitor temido, Enéas piedofo?
Confumíram-te os anos,

O' Creflo tao famofo

Sem te valer teu ouro preciofo.

Todo o contentamento

Crias que eftava em ter thefouro ufano!
Oh falfo penfamento,

Que á cufta de teu dano

Do Sabio Solon crefte o defengano!
O bem que aqui fe alcança,

Nao

Nao dura por poffante, nem por forte:
Que a bemaventurança
Duravel, de outra forte

Se ha de alcançar na vida para a morte.
Porque, em fim, nada bafta

Contra o terrivel fim da noite eterna;
Nem póde a deofa cafta

Tornar á luz fuperna

Hippolyto da efcura fombra averna.
Nem Thefeo esforçado,

Ou com manha, ou com força valerofa;
Livrar póde o ou fado

Perithoo da efpantofa

Prifað Lethéa efcura, e tenebrofa.

A

ODE X..

Quelle moço

fero

Nas Pelethronias covas doctrinado

Do Centauro fevero;

Cujo peito esforçado

Com tutanos de tigres foi criado:
Na agua fatal, menino

Olava a mái, prefága do futuro ;
Para que ferro fino

Nao paffe o peito duro

Que de fi mefmo a fi fe tem por muro.

A carne lhe endurece >

Porque nao feja de armas offendida.
Cega! Pois nao conhece

Que pode haver ferida

Na alma, e que menos doe perder a vida.

Que

Que donde o braço irado

Dos Troianos paffava arnez, e efcudo,

Alli fe vio paffado

De aquelle ferro agudo

Do menino que em todos póde tudo.
Alli fe vio captivo

Da captiva gentil que ferve, e adora;
Alli fe vio que vivo

Em vivo fogo mora,

Porque de feu Senhor a vê Senhora.
Já toma a branda lira-

Na mão que a dura Pelias meneára;
Alli canta, e fufpira,

Nao como lhe enfinára

O vėlho, mas o moço que o cegára.
Pois, logo, quem culpado

Será, fe de pequeno offerecido
Foi todo a feu cuidado;

No berço inftituïdo

A nao poder deixar de fer ferido?
Quem logo fraco infante,

De outro mais poderofo foi fujeito ;
E para cego amante

Defde o princípio feito,

Com lagrimas banhando o tenro peito? agora foi ferido

Se agora

Da penetrante ponta, e força de herva;
E fe amor he fervido

Que firva á linda ferva

Para

quem minha Estrella me referva? O gefto bem talhado ;

O airofo meneo, e a poftura;.

Ο

Orofto delicado

Que na vifta figura

Que fe enfina por arte a formofura:
Como póde deixar

De render a quem tenha entendimento?
Que quem nao penetrar

Hum doce gefto attento,

Nao lhe he nenhum louvor viver ifento.
Aquelles cujos peitos
Ornou de altas fciencias o destino,
Se víram mais fujeitos

Ao cego e vão menino,

Arrebatados do furor divino.

O Rei famofo Hebreo

Que mais que todos foube, mais amou;
Tanto, que a deos alheo

Falfo facrificou.

Se muito foube, e teve, muito errou.
E o grão Sabio que enfina,
Paffeando, os fegredos da Sophia,
A' baixa concubina

Do vil Eunuco Hermia

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Aras ergueo, que aos deofes fó devia.
Aras ergue a quem ama

O Philofopho infigne namorado.

Doe-se a perpétua fama

E grita que culpado

Da lefa divindade he accufado.
Já foge donde habita;

Já paga a culpa énorme com defterro.
Mas, oh grande defdita!

Bem moftra taganho erro.,

0.

Que

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Que doctos corações nao fao de ferro.
Antes na altiva mente,

No fubtil fangue, e engenho mais perfeito,

Ha mais conveniente,

E conforme fogeito,

Onde fe imprima o brando e doce effeito.

O DE XI.

NEq que fe ve do Mundo a formofura Aquelle tempo brando

Em

Que Tethys defcanfando

De feu trabalho eftá, formofa, e pura,
Canfava amor o peito.

Do mancebo Peleo, de hum duro affeito.
Com impeto forcofo

Lhe havia já fugido a bella Nympha,
Quando no tempo aquofo.

Nato irado rebolve a clara lympha,
Serras no mar erguendo,

Que os cuines das da terra yao lambendo.
Efperava o mancebo

Com a profunda dor que na alma fente
Hum dia em que já Phebo

Começava a moftrar-fe ao Mundo ardente
Soltando as tranças de ouro

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Em que Clicie de amor faz feu thefouro.
Era no mez que Apolo

Entre os irmãos celeftes paffa o tempo:
O vento enfrêa Eolo.

Para que o deleitofo paffatempo

Seja quieto, e mudo;

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Que

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